Eu acordo com um solavanco. Eu acho que tinha apenas caído alguns degraus em um sonho, e eu fiquei ereta, momentaneamente desorientada. Está escuro, e eu estou na cama de Christian sozinha. Alguma coisa tinha me acordado, algum pensamento incômodo. Eu olho para seu despertador no criado-mudo. São cinco da manhã, mas me sinto descansada. Porque disso? Oh, é a diferença do horário, seria oito da manhã na Georgia. Puta merda... eu preciso tomar minha pílula. Eu saio da cama, agradecida pelo o que quer que tenha me acordado. Eu posso ouvir notas fracas do piano. Christian está tocando. Isso eu preciso ver. Eu amo assisti-lo tocar. Nua, agarrei meu roupão da cadeira e vagueei calmamente pelo corredor, deslizando pelo roupão e ouvindo o som mágico do lamento melódico que estava vindo da sala grande.
Coberto pela escuridão, Christian está sentado em uma bolha de luz enquanto toca, e seu cabelo brilha com os realces de cobre. Ele parece nu, embora eu sei que ele está usando sua calça de pijama. Ele está concentrando, tocando lindamente, perdido na melancolia da música. Eu hesito, observando das sombras, sem querer interrompe-lo. Eu quero segurá-lo.
Ele parece perdido, até mesmo triste, e dolorosamente solitário, ou talvez seja apenas a música que é tão cheia de tristeza pungente. Ele termina a peça, pausa por uma fração de segundo, então começa a tocar de novo.
Eu me movo cuidadosamente em direção a ele, atraída como uma mariposa pelas chamas... A ideia me faz sorrir.
Ele olha para cima, para mim e franze a testa antes que seu olhar retorne para suas mãos, e oh merda, ele está irritado porque estou perturbando-o?
— Você deveria estar dormindo, — ele me repreende suavemente.
Eu posso dizer que ele está pré-ocupado com alguma coisa.
— E você também, — eu replico, não tão suavemente.
Ele olha para cima novamente, seus lábios se contorcendo com um vestígio de sorriso.
— Você está me repreendendo, Senhoria Steele?
— Sim, Senhor Grey, eu estou.
— Bem, eu não consigo dormir. — Ele franze o cenho mais uma vez quando um traço de irritação ou raiva brilha através de seu rosto. Comigo? Certamente que não.
Eu ignoro sua expressão facial e muito corajosamente sento ao lado dele no banco do piano, colocando minha cabeça em seu ombro nu para assistir seus dedos hábeis e ágeis, acariciarem as teclas. Ele faz uma pausa fracionada, e então continua até o final da peça.
— O que foi isso? — eu perguntei baixinho.
— Chopin[1]. Opus 28, número 4. Em E menor, se você está interessada, — ele murmurou.
— Estou sempre interessada no que você faz.
Ele se vira e pressiona suavemente seus lábios contra meu cabelo.
— Eu não quis acordar você.
— Você não acordou. Toca outra.
— Outra?
— A peça de Bach que você tocou na primeira noite que eu fiquei.
— Oh, o Marcello.
Ele começa a tocar vagarosamente e deliberadamente. Eu sinto o movimento de suas mãos em seus ombros enquanto eu me inclino contra ele e fecho os olhos. As notas tristes e emotivas fazem um redemoinho lento e melancólico ao nosso redor, ecoando pelas paredes. É uma peça assombrosamente bela, mais triste ainda que a de Chopin, e eu me perco na beleza do lamento. De certa forma, ela reflete como eu me sinto. O profundo desejo pungente que eu tenho de conhecer esse extraordinário homem melhor, tentar e compreender sua tristeza. Cedo demais, a peça está no final.
— Porque você só toca música tão triste?
Eu sento ereta e olho para cima para ele enquanto ele encolhe os ombros em resposta para minha pergunta, sua expressão desconfiada.
— Então você só tinha seis anos quando começou a tocar? — eu pergunto.
Ele assente, seu olhar desconfiado se intensificando. Depois de um momento ele se voluntaria.
— Eu me atirei para aprender piano para agradar a minha nova mãe.
— Para caber em uma família perfeita?
— Sim, por assim dizer, — ele diz evasivamente. — Porque você está acordada? Você não precisa se recuperar dos esforços de ontem?
— São oito da manhã para mim. E eu preciso tomar minha pílula.
Ele levantou as sobrancelhas em surpresa.
— Bem lembrado, — murmurou, e eu posso dizer que ele estava impressionado. Seus lábios capricharam em um meio sorriso. — Só você começaria um tratamento específico de anticoncepcionais em um fuso horário diferente. Talvez você devesse esperar meia hora e então outra meia hora amanhã de manhã. Assim eventualmente você pode tomá-las em um tempo razoável.
— Bom plano, — eu respiro. — Então o que nós devemos fazer por meia hora? — pisco inocentemente para ele.
— Eu posso pensar em algumas coisas, — ele sorri, olhos cinzas brilhantes. Eu olho para trás impassível enquanto minhas entranhas apertam e derretem sob seu olhar conhecedor.
— Por outro lado, nós poderíamos conversar, — eu sugeri calmamente.
Ele franze a testa.
— Eu prefiro o que eu tenho em mente. — Ele me coloca em seu colo.
— Você sempre prefere fazer sexo do que conversar, — eu ri, me equilibrando segurando em seus braços.
— Verdade. Especialmente com você. — Ele fuça meu cabelo e começa uma trilha contínua de beijos da minha orelha até minha garganta. — Talvez no meu piano, — ele sussurra.
Oh meu Deus. Todo o meu corpo se aperta ao pensamento. Piano. Uau.
— Eu quero esclarecer uma coisa, — eu sussurro enquanto meu pulso começa a acelerar, e minha deusa interior fecha os olhos, deleitando-se na sensação de seus lábios em mim.
Ele pausa momentaneamente antes de continuar seu ataque sensual.
— Sempre tão ansiosa por informação, Senhorita Steele. O que precisa ser esclarecido? — ele respira contra a minha pele na base do meu pescoço, continuando seus suaves beijos gentis.
— Nós, — eu sussurro enquanto fecho os olhos.
— Humm. O que sobre nós? — ele pausa sua trilha de beijos ao longo do meu ombro.
— O contrato.
Ele levanta a cabeça para olhar para mim, uma pitada de diversão em seus olhos, e suspiros. Ele acaricia os dedos na minha bochecha.
— Bem, eu acho que o contrato ficou obsoleto, você não acha? — sua voz esta baixa e rouca, seus olhos suaves.
— Obsoleto?
— Obsoleto. — Ele sorri. Eu olho de boca aberta para ele, intrigada.
— Mas você estava tão interessado no contrato.
— Bem, isso foi antes. De qualquer forma, as regras ainda seguem de pé. — Sua expressão endureceu um pouco.
— Antes? Antes do que?
— Antes... — ele pausa e a expressão cautelosa está de volta, — Antes que houvesse “mais.” Ele encolhe os ombros.
— Oh.
— Além do mais, nós estivemos na sala de jogos duas vezes agora, e você não fugiu gritando espantada.
— Você espera que eu faça isso?
— Nada do que você faz é esperado, Anastásia, — ele diz secamente.
— Então, deixe-me ser clara. Você só quer que eu siga as regras do contrato todo o tempo, mas ignore o resto estipulado?
— Exceto na sala de jogos. Eu quero que você siga o espírito do contrato na sala de jogos, e sim, eu quero que você siga as regras, todo o tempo. Então eu sei que você estará segura, e eu serei capaz de ter você a qualquer momento que eu queira.
— E se eu quebro uma das regras?
— Então eu vou puni-la.
— Mas você não vai precisar da minha permissão?
— Sim, irei.
— E se eu digo não?
Ele me olha por um momento, com uma expressão confusa.
— Se você disser não, você vai dizer não. Eu terei que encontrar uma maneira de persuadi-la.
Eu me afasto dele e fico em pé. Preciso de alguma distância. Ele franze a testa quando eu olho para baixo para ele. Ele parece intrigado e cauteloso de novo.
— Então, o aspecto da punição permanece.
— Sim, mas só se você quebra as regras.
— Eu vou precisar relê-las, — eu digo, tentando lembrar dos detalhes.
— Eu vou buscá-las pra você. — Seu tom está de repente profissional.
Uau. Isso ficou sério tão rapidamente. Ele se levanta do piano e anda agilmente para sua sala de estudo. Meu couro cabeludo fica arrepiado. Caramba, eu preciso de um pouco de chá. O futuro do nosso então chamado relacionamento está sendo discutido as cinco e quarenta e cinco da manhã quando ele está pré-ocupado com outra coisa, isso é sábio? Eu me dirijo para a cozinha que ainda está envolta das sombras. Onde estão os interruptores? Eu os encontro, ligo-os, e despejo água em uma chaleira. Minha pílula! Eu reviro minha bolsa que deixei na mesa de café e as encontro rapidamente. Um gole, e estou pronta. No momento que eu termino, Christian está de volta, sentando em um dos bancos do bar, me observando atentamente.
— Aqui está. — Ele empurra um pedaço de papel digitado na minha direção, e eu percebo que ele mexeu em algumas coisas.
REGRAS
Obediência:
A Submissa irá obedecer qualquer instrução dada pelo Dominante imediatamente sem hesitação ou reserva e de uma forma eficiente. A Submissa irá concordar com qualquer atividade sexual considerada apta e prazerosa pelo Dominante exceto aquelas atividade que são indicadas em duros limites.
(Anexo A). Ela fará tão avidamente e sem hesitação.
Sono:
A Submissa garantirá que consiga um mínimo de oito ou sete horas de sono por noite quando ela não está com o Dominante.
Comida:
A Submissa comerá regularmente para manter sua saúde e bem-estar de uma lista prescritas de alimentos (Anexo 4). A Submissa não terá lanche entre as refeições, com a exceção de frutas.
Roupas:
Enquanto estiver com o Dominante, A Submissa apenas vestirá roupas aprovadas pelo Dominante. O Dominante irá fornecer um orçamento para roupas da Submissa, a qual a Submissa deve utilizar. O Dominante deverá acompanhar A Submissa nas compras das roupas desse caráter.
Exercícios:
O Dominante deverá fornecer a Submissa um treinador pessoal quatro vezes por semana em sessões de uma hora de duração em horários a ser mutuamente acordados entre o treinador e a Submissa. O treinador informará ao Dominante o progresso da Submissa.
Higiene Pessoal / Beleza:
A Submissa irá manter-se limpa e raspada e/ou depilada em todos os momentos. A Submissa visitará um salão de beleza de escolha do Dominante em momentos a ser decididos pelo Dominante, e passará por qualquer tratamento que o Dominante julgar conveniente.
Segurança Pessoal:
A Submissa não vai beber em excesso, fumar, usar drogas ilícitas ou colocar-se em qualquer perigo desnecessário.
Qualidades Pessoais:
A Submissa não entrará em quaisquer relações sexuais com alguém que não seja o Dominante. A Submissa se comportará respeitosa e de forma modesta em todos os momentos. Ela deve reconhecer que seu comportamento é um reflexo direto sobre o Dominante. Ela deve ser responsabilizada por quaisquer malefícios, erros cometidos e mau comportamento cometidos quando não estiver na presença do Dominante.
O não cumprimento de qualquer regra acima resultará em punição imediata, cuja natureza deverá ser determinada pelo Dominante.
— Então a coisa da obediência ainda está em pé?
— Oh, sim. — Ele sorri.
Eu balanço a cabeça divertida, e antes que eu perceba, desvio meu olhar do dele.
— Você acabou de revirar os olhos para mim, Anastásia? — ele respira.
Oh porra.
— Possivelmente, depende de qual é a sua reação.
— O mesmo de sempre, — ele diz, balança a cabeça ligeiramente, seus olhos abertos com excitação.
Eu engulo instintivamente e um arrepio de satisfação corre através de mim.
— Então... — Puta merda. O que eu vou fazer?
— Sim? — ele lambe o lábio inferior.
— Você quer me espancar agora.
— Sim. E eu farei.
— Oh, mesmo, Senhor Grey? — eu desafio, sorrindo de volta para ele. Dois podem jogar esse jogo.
— Você vai me impedir?
— Você vai ter que me pegar primeiro.
Seus olhos se arregalam em uma fração de segundo, e ele sorri, lentamente ficando em pé.
— Oh, mesmo, Senhorita Steele?
A mesa de café está entre nós. Eu nunca estive tão grata pela sua existência do que nesse momento.
— E você está mordendo o lábio, — ele respira, se movendo lentamente para sua esquerda quando eu me movo para a minha.
— Você não faria, — eu provoco. — Afinal, você desvia seu olhar também. — Eu tento argumentar com ele. Ele continua a se mover em direção a sua esquerda, assim como eu.
— Sim, mas com esse joginho você acaba de subir o nível de excitação. — Seus olhos incendeiam, e antecipação selvagem emana dele.
— Eu sou bastante rápida, você sabe. — Eu tento com indiferença.
— Eu também.
Ele está me perseguindo, em sua própria cozinha.
— Você vai vir sem resistir? — ele pergunta.
— Alguma vez eu já fui?
— Senhorita Steele, o que você quer dizer? — ele sorri. — Será pior para você se eu tiver que ir e pegá-la.
— Isso apenas se você me pegar, Christian. E nesse momento, eu não tenho nenhuma intenção de deixá-lo me pegar.
— Anastásia, você pode cair e se machucar. O que a colocará em violação direta a regra número sete.
— Desde que te conheci Senhor Grey, estou em perigo permanente, com regras ou sem.
— Sim você esta. — Ele pausa, e sua testa enruga ligeiramente.
De repente, ele dá o bote em mim, me fazendo gritar e correr para a mesa de jantar. Eu consigo escapar, colocando a mesa entre nós. Meu coração está martelando e a adrenalina disparou pelo meu corpo... cara... isso é tão excitante. Eu sou uma criança de novo, embora isso não esteja certo. Eu o observo cuidadosamente, enquanto ele caminha deliberadamente em minha direção. Eu dou uns centímetros de distância.
— Você certamente sabe como distrair um homem, Anastásia.
— Nosso objetivo é agradar, Senhor Grey. Distraí-lo do que?
— Vida. O universo. — Ele balança a mão vagamente.
— Você realmente parecia muito preocupado enquanto estava tocando.
Ele para e cruza os braços, sua expressão divertida.
— Nós podemos fazer isso durante o dia todo, querida, mas eu vou pegá-la, e só será pior para você quando eu fizer.
— Não, você não vai. — Eu não devo ser excessivamente confiante. Eu repito isso como um mantra. Meu subconsciente vestiu seu Nike, e ele está sobre os tacos de partida.
— Qualquer um poderia pensar que você não quer que eu te pegue.
— Eu não quero. Esse é o ponto. Para mim o castigo é como o toque para ti.
Toda a sua atitude muda em um segundo. Foi-se o Christian brincalhão, e ele fica me olhando como se eu tivesse lhe dado um tapa. Ele está pálido.
— É assim que você se sente? — ele sussurra.
Aquelas cinco palavras, e a forma como ele as pronuncia, me falam muito. Ah não. Elas me dizem muito mais sobre ele e como ele sente. Elas me dizem sobre seu medo e ódio. Eu franzo a testa.
Não, eu não me sinto assim tão mal. De jeito nenhum. Eu sinto?
— Não, não me afeta tanto quanto isso, mas isso te dá uma ideia, — eu murmuro, olhando ansiosamente para ele.
— Ah, — ele diz.
Merda. Ele parece completa e totalmente perdido, como se eu tivesse puxado o tapete debaixo dos seus pés.
Tomando uma respiração profunda, eu me movo ao redor da mesa até que estou em pé na frente dele, olhando para seus olhos apreensivos.
— Você odeia isso tanto assim? — ele respira, seus olhos cheios com horror.
— Bem... não, — eu o tranquilizo. Caramba – é assim que ele se sente sobre as pessoas o tocarem?
— Não. Eu me sinto ambígua sobre isso. Eu não gosto, mas não odeio.
— Mas na noite passada, na sala de jogos, você... — ele diminuiu.
— Eu faço isso para você, Christian, porque você precisa disso. Eu não. Você não me machucou na noite passada. Aquilo foi em um contexto diferente, e eu posso racionalizar aquilo internamente, e eu confio em você. Mas quando você quer me punir, eu me preocupo se você vai me machucar.
Seus olhos cinzentos brilham como uma tempestade turbulenta. O tempo passa, e se expande e esvai antes dele responder em voz baixa.
— Eu quero machucar você. Mas não quero provocar uma dor maior que não seja capaz de suportar.
Porra!
— Por quê?
Ele passa a mão pelo cabelo, e encolhe os ombros.
— Eu apenas preciso disso. — Ele pausa, me olhando com angústia, e fecha os olhos e balança a cabeça. — Eu não posso dizer a você, o porque — ele sussurra.
— Não pode ou não vai?
— Não vou.
— Então você sabe o por que.
— Sim.
— Mas você não vai me dizer.
— Se eu digo, você irá sair correndo gritando dessa sala, e nunca vai querer retornar. — Ele me olha com cautela. — Eu não posso correr esse risco, Anastásia.
— Você quer que eu fique.
— Mais do que você pode imaginar. Eu não suportaria perder você.
Oh meu Deus.
Ele olha para baixo para mim, e repentinamente, me puxa para seus braços e está me beijando, beijando-me apaixonadamente. Isso me pega completamente de surpresa, e eu sinto seu pânico e necessidade desesperada em seu beijo.
— Não me deixe. Você me disse em sonhos que nuca me deixaria, e implorou para eu não deixá-la, — ele murmura contra meus lábios.
Oh... minhas confissões noturnas.
— Eu não quero ir. — E me coração fica apertado, como se ficasse do avesso.
Esse é um homem com necessidade. Seu medo é nu e óbvio, mas ele está perdido... em algum lugar em sua escuridão. Seus olhos arregalados, desolados e torturados. Eu posso acalmá-lo. Acompanho-o brevemente na escuridão para trazê-lo para a luz.
— Me mostra, — eu sussurro.
— Mostrar a você?
— Me mostre o quanto isso pode machucar.
— O que?
— Me punir. Eu quero sabe o quão ruim isso pode ficar.
Christian dá um passo para longe de mim, completamente confuso.
— Você tentaria?
— Sim. Eu disse que faria. — Mas eu tenho uma segunda intenção. Se eu faço isso por ele, talvez ele me deixasse tocá-lo.
Ele pisca para mim.
— Ana, você é tão confusa.
— Estou confusa demais. Estou tentando trabalhar nisso. E você e eu vamos saber, de uma vez por todas, se eu posso fazer isso. Se eu posso lidar com isso, então talvez você... — minha palavras me faltaram, e ele me olha espantado. Ele sabe que estou me referindo à coisa do toque. Por um momento, ele parece consternado, mas de repente seu rosto ganha um ar de determinação, e ele aperta os olhos, olhando para mim especulativamente como se ponderasse as alternativas.
Abruptamente, ele agarra meu braço em um aperto firme e se vira, me tirando da sala grande, para cima dos degraus, e para a sala de jogos. Prazer e dor, recompensa e castigo, as palavras dele de há muito tempo ecoam em minha mente.
— Eu vou mostrar a você o quão ruim pode ser, e você pode decidir o que fazer. — Ele pausa na porta. —Você está pronta para isso?
Eu balanço a cabeça, decidida, me sinto um pouco tonta e fraca enquanto fico pálida. Ele abre a porta, e ainda apertando meu braço, agarra o que parece ser um cinto da prateleira ao lado da porta, então me leva até o banco de couro vermelho no canto afastado do quarto.
— Se dobre sobre o banco, — ele murmura baixinho.
Ok. Eu posso fazer isso. Eu me dobro sobre o couro liso e macio. Ele me deixou com o roupão. Em uma parte tranquila do meu cérebro, estou vagamente surpresa que ele não tenha me feito tirá-lo. Puta merda isso vai doer... eu sei. Meu subconsciente desmaiou, e minha deusa interior está se esforçando para parecer corajosa.
— Nós estamos aqui porque você disse sim, Anastásia. E você correu de mim. Eu vou bater em você seis vezes, e você vai contar comigo.
Porque diabos ele apenas não vai em frente? Ele sempre faz uma boa refeição para me punir. Eu reviro meus olhos, sabendo muito bem que ele não pode me ver.
Ele levanta a barra do meu roupão, e por alguma razão, isso parece mais íntimo do que estando nua. Ele acaricia gentilmente meu traseiro, correndo sua mão quente pelas duas nádegas e então para o alto das minhas coxas.
— Estou fazendo isso para que se recorde de não correr de mim, por mais excitante que isso seja, eu não quero que você corra de mim, — ele sussurra.
Sou consciente da ironia. Eu estava correndo para evitar isso. Se ele tivesse aberto seus braços, eu teria corrido para ele, e não para longe dele.
— E você afastou seu olhar de mim. Você sabe como eu me sinto sobre isso. — De repente, se foi aquele medo irritado e nervoso em sua voz. Ele está de volta de onde quer que ele tenha estado. Eu ouço isso eu seu tom, na forma como ele coloca seus dedos nas minhas costas, me segurando e a atmosfera muda no quarto.
Eu fecho meus olhos, preparando-me para o golpe. Ele vem duro, estapeando toda a minha parte traseira, e a batida do cinto é tudo o que eu temia. Eu grito alto involuntariamente, e respiro profundamente.
— Conte, Anastásia! — ele ordena.
— Um! — eu grito com ele, e soa como um palavrão.
Ele me bate de novo, e a dor pulsa e ecoa ao longo da cintura. Caralho... isso dói.
— Dois! — eu grito. É tão bom gritar.
A respiração dele está irregular e áspera. Considerando que a minha é quase inexistente, enquanto eu busco desesperadamente em minha psique alguma força interna. O cinto atravessa minha carne novamente.
— Três! — Lágrimas indesejáveis surgem nos meus olhos. Caramba, isso é mais duro do que pensei, muito mais duro do que a surra. Ele não está maneirando em nada.
— Quatro! — eu grito quando o cinto me açoita novamente, e agora as lágrimas estão escorrendo pelo meu rosto. Eu não quero chorar. Irrita-me que eu esteja chorando. Ele me bate de novo.
— Cinco. — Minha voz é mais um soluço, embargado e sufocado, e nesse momento, eu acho que o odeio. Mais um. Eu posso fazer mais um. Minhas costas parecem estar em fogo.
— Seis, — eu sussurro enquanto a dor escaldante corta através de mim novamente, e eu o ouço derrubar o cinto atrás de mim, e ele está me puxando para seus braços, sem fôlego e compassivo... e eu não quero nada dele.
— Deixe-me ir... não... — e eu me encontro lutando para fora de seu alcance, empurrando-o para longe. Lutando contra ele.
— Não me toque! — Eu digo enfurecida.
Eu me endireito e olho para ele, e ele está me observando como se eu pudesse estar louca, seus olhos cinzentos largos, confusos. Eu jogo as lágrimas com raiva para fora dos meus olhos com as costas das minhas mãos, olhando para ele.
— Isso é o que você realmente gosta? Eu, assim? — eu uso a manga do roupão para enxugar meu nariz. Ele me olha com cautela.
— Bem, você é um fodido filho da puta.
— Ana, — ele implora, chocado.
— Não se atreva a me chamar de Ana! Você precisa resolver essa merda, Grey! — e com isso, eu me viro com firmeza, e saio da sala de jogos, fechando a porta silenciosamente atrás de mim.
Eu aperto a maçaneta da porta atrás de mim e brevemente me encosto contra a porta. Onde ir? Eu corro? Fico? Estou tão brava, lágrimas correm pelo meu rosto, e eu as limpo com raiva. Eu só quero me enrolar. Enrolar-me e me recuperar de alguma forma. Curar a minha fé abalada. Como eu pude ter sido tão estúpida? Claro que isso dói.
Timidamente, eu esfrego o meu traseiro. Aah! Está ferido. Para onde ir? Não o quarto dele. Meu quarto, ou o quarto que seria meu, não, é meu... era meu. É por isso que ele queria que eu o mantivesse. Ele sabia que eu precisaria de distância dele.
Eu me lancei rigidamente naquela direção, consciente de que Christian pode me seguir. Ainda está escuro no quarto, a madrugada apenas um sussurro no horizonte. Eu subo desajeitadamente na cama, tomando cuidado para não sentar no meu traseiro dolorido e sensível. Eu mantenho o roupão, enrolando-o ao meu redor, e me enrolo em uma bola e realmente deixo ir, soluçando duro em meu travesseiro.
No que eu estava pensando? Porque eu o deixei fazer aquilo comigo? Eu queria a escuridão, para explorar o quão ruim ela poderia ser, mas é muito escuro para mim. Eu não posso fazer isso. Sim, é isso o que ele quer, é isso que o excita de verdade.
Isso sim é um despertar de verdade, e que jeito... E para ser justa com ele, ele me avisou e avisou, uma e outra vez. Ele não é normal. Ele tem necessidade que eu não posso cumprir. Percebo isso agora.
Eu não quero que ele me bata assim novamente, nunca mais. Eu penso nas duas vezes que ele me bateu, e o quão suave ele foi comigo em comparação a isso. Isso é o suficiente para ele? Eu soluço mais duro no travesseiro. Eu vou perdê-lo. Ele não vai querer ficar comigo se eu não posso dar isso a ele.
Porque, porque, porque eu me apaixonei pelas Cinquenta Sombras? Por que? Porque eu não posso amar o José, ou Paul, ou Clayton, ou alguém como eu?
Oh, seu olhar desesperado quando eu saí. Eu fui tão cruel, estava tão chocada com a selvageria... ele vai me perdoar... eu vou perdoá-lo? Meus pensamentos estão todos descontrolados e desordenados, ecoando e quicando no interior do meu crânio. Meu subconsciente está balançando a cabeça tristemente, e minha deusa interior não está em nenhum lugar para ser vista.
Oh, essa é uma manhã escura da alma para mim. Estou tão sozinha. Eu quero a minha mãe. Eu me lembro das suas palavras de despedida no aeroporto, Siga o seu coração, querida, e por favor, por favor, tente não pensar demais sobre as coisas. Relaxe e aproveite. Você é tão jovem querida, você tem tanto para experimentar, apenas deixe acontecer.
Você merece o melhor de tudo.
Eu realmente segui meu coração, e eu tenho uma bunda dolorida e um espírito angustiado e quebrado para mostrar. Eu tenho que ir. É isso... eu tenho que ir embora. Ele não é bom para mim, e eu não sou boa para ele. Como nós podemos possivelmente fazer isso funcionar? E o pensamento de não vê-lo novamente praticamente me sufoca... meu Cinquenta Sombras.
Eu ouço a porta abrir. Oh no – ele está aqui. Ele coloca alguma coisa no criado mudo, e a cama muda embaixo do seu peso quando ele sobe atrás de mim.
— Silêncio, — ele respira, e eu quero me afastar dele, me mover para o outro lado da cama, mas eu estou paralisada. Eu não posso me mover e me deito rigidamente, não cedendo nem um pouco.
— Não brigue comigo, Ana, por favor, — ele sussurra. Gentilmente, ele me puxa para seus braços, enterrando o nariz no meu cabelo, beijando meu pescoço.
— Não me odeie, — ele respira suavemente contra a minha pele, sua voz dolorosamente triste. Meu coração aperta de novo e libera uma nova onda de choro e soluços silenciosos.
Ele continua me beijando suavemente, com ternura, mas eu permaneço distante e desconfiada.
Ficamos deitados juntos assim, sem diz qualquer coisa por muito tempo. Ele apenas me segura, e muito gradativamente, eu relaxo e paro de chorar. O amanhecer vai e vem, e a luz suave fica mais brilhante conforme a manhã se move, e ainda nós deitamos quietamente.
— Eu trouxe para você um pouco de Advil e creme de arnica, — ele diz depois de muito tempo.
Eu me viro muito lentamente em seus braços então eu posso encará-lo. Estou descansando minha cabeça em seu braço. Seus olhos estão um cinza de pedra e protegidos.
Eu olho para seu rosto lindo. Ele não está mostrando nada, mas ele mantêm seus olhos nos meus, mal piscando. Oh, ele é tão incrivelmente lindo. Em tão pouco tempo, ele se tornou tão, tão querido para mim. Esticando minha mão, eu acaricio sua bochecha e corro a ponta dos dedos por sua barba. Ele fecha os olhos e exala levemente.
— Desculpe, — eu sussurro.
Ele abre os olhos e me olha intrigado.
— Pelo o que?
— Pelo o que eu disse.
— Você não me disse nada que eu não soubesse. — E seus olhos suavizam com alívio. — Desculpe-me, eu machuquei você.
Eu dou os ombro.
— Eu pedi por isso. — E agora eu sei. Eu engulo. Aqui vai. Eu preciso dizer o que sinto. — Eu não acho que posso ser tudo o que você quer que eu seja, — eu sussurro. Seus olhos se arregalam um pouco, e ele pisca, sua expressão temerosa retornando.
— Você é tudo o que eu quero que seja.
O que?
— Eu não entendo. Eu não sou obediente, e você pode estar certo como o inferno que eu não vou deixar você fazer aquilo comigo de novo. E é isso o que você precisa, você me disse.
Ele fecha os olhos novamente, e eu posso ver uma infinidade de emoções cruzar seu rosto. Quando ele os reabre, sua expressão está desolada.
Oh não.
— Você está certa. Eu deveria deixar você ir. Eu não sou bom para você.
Meu couro cabeludo se arrepia quando cada fio de cabelo em meu corpo está atento, e meu mundo desaba, deixando um amplo abismo aberto para eu cair dentro.
Oh no.
— Eu não quero ir, — eu sussurro. Foda-se, é isso. Pagar ou jogar. As lágrimas nadam em meus olhos mais uma vez.
— Eu não quero você vá também, — ele sussurra, sua voz crua. Ele estica a mão e gentilmente acaricia meu rosto e enxuga uma lágrima caindo com o polegar.
— Eu vim para a vida desde que conheci você. — Seu polegar traça o contorno do meu lábio inferior.
— Eu também, — eu sussurro, — Eu me apaixonei por você, Christian.
Seus olhos arregalam novamente, mas dessa vez, com medo puro e indissolúvel.
— Não, — ele respira como se eu o tivesse socado e tivesse deixado-o sem ar.
Oh não.
— Você não pode me amar, Ana. Não... isso é errado. — Ele está horrorizado.
— Errado? Porque é errado?
— Bem, olhe para você. Eu não posso fazê-la feliz. — Sua voz está angustiada.
— Mas você me faz feliz. — Eu franzo a testa.
— -Não nesse momento, não fazendo o que eu quero fazer.
Puta merda. É realmente isso. Isso é o que ferve para baixo, incompatibilidade, e todas aquelas pobres legendas veem a mente.
— Nós nunca conseguiremos superar isso, não é? — eu sussurro, meu couro cabeludo pinicando com medo.
Ele balança a cabeça tristemente. Eu fecho os olhos. Não suporto olhar para ele.
— Bem... é melhor eu ir, então, — eu murmuro, estremecendo quando me sento.
— Não, não vá. — Ele soa em pânico.
— Não há nenhuma razão para eu ficar. — De repente, eu me sinto cansada, realmente muito cansada, e eu quero ir agora. Eu saio da cama, e Christian me segue.
— Eu vou me vestir. Gostaria de um pouco de privacidade, — eu digo, minha voz plana e vazia enquanto o deixo em pé no quarto.
Dirigindo-me para o andar de baixo, eu olho para a sala grande, pensando em como apenas algumas horas antes eu tinha descansado minha cabeça no ombro dele enquanto ele tocava o piano. Tanta coisa tinha acontecido desde então.
Eu tive meus olhos abertos e vislumbrei a extensão da sua depravação, e agora eu sei que ele não é capaz de amar, de dar e receber amor. Meus piores medos tinham sido realizados. E estranhamente, é muito libertador.
A dor é tanta que eu recuso tomar conhecimento disso. Eu me sinto entorpecida. Eu de alguma forma escapei do meu corpo e sou agora uma observadora casual do desenrolar dessa tragédia. Eu me banho rápida e metodicamente, pensando somente em cada segundo na minha frente. Agora aperte o frasco para lavar o corpo. Coloque o frasco de volta na prateleira. Esfregue a bucha no rosto, no corpo... indo, todas as ações simples e metódicas, exigindo simples pensamentos mecânicos.
Eu termino meu banho, e como eu não lavei meu cabelo, eu posso me secar rapidamente. Eu me visto no banheiro, tirando o jeans e camiseta da minha mala pequena. Minha calça jeans irrita meu traseiro, mas francamente, é uma dor que eu dou boas-vindas como distrai minha mente do que está acontecendo com o meu estilhaçado e quebrado coração.
Eu me curvo para fechar a mala, e a sacola contendo o presente para Christian me chama a atenção, um kit de modelagem de Blahnik L23 planador, algo para ele construir. As lágrimas ameaçam. Oh não... tempos mais felizes, quando havia esperança de mais. Eu a tiro da bolsa, sabendo que eu preciso dar isso a ele.
Rapidamente, um rasgo um pedaço de papel do meu caderno, rabiscando apressadamente uma nota para ele, e a deixo no topo da caixa.
Lembrança de um tempo feliz.
Obrigada.
Ana
Eu me olho no espelho. Um assombrado fantasma pálido me olha de volta. Eu escovo meu cabelo em um rabo de cavalo e ignoro como as minhas pálpebras estão inchadas de chorar. Meu subconsciente concorda em aprovação. Mesmo ela sabe que não deve ser sarcástica agora. Eu não posso acreditar que meu mundo está desmoronando ao meu redor em uma pilha de cinzas estéreis, todas as minhas esperanças e sonhos cruelmente frustradas. Não, não pense sobre isso. Não agora, não ainda. Respirando fundo, eu pego minha bolsa, e depois de colocar o kit planador e minha nota em seu travesseiro, eu me dirijo para a grande sala.
Christian está no telefone. Ele está vestido com calças pretas e camiseta. Seus pés descalços.
— Ele disse o que! — ele grita, me fazendo pular. — Bem, ele poderia ter nos dito a porra da verdade. Qual é o número dele, eu preciso ligar para ele... caralho, isso está realmente fodido. — Ele olha para cima e não tira seus olhos escuros e taciturnos de mim. — Encontre-a, — ele estala e pressiona o telefone.
Eu ando até o sofá e pego minha mochila, fazendo o meu melhor para ignorá-lo. Eu tiro o Mac para fora e ando de volta em direção a cozinha, colocando-o cuidadosamente na mesa do bar, junto com o BlackBerry e a chave do carro. Quando eu me viro para encará-lo, ele está me olhando, estupefato, com horror.
— Eu preciso do dinheiro que Taylor deu pelo meu fusca. — Minha voz está clara e calma, desprovida de emoção... extraordinário.
— Ana, eu não quero essas coisas, elas são suas, — ele diz incrédulo. —Por favor, leve-as.
— Não Christian, eu só as aceitei sob resignação, e eu não as quero mais.
— Ana, seja razoável, — ele me censura, mesmo agora.
— Eu não quero nada que me lembre de você. Eu só preciso do dinheiro que Taylor deu pelo meu carro. — Minha voz está muito monótona.
Ele suspira.
— Você esta realmente tentando me ferir?
— Não. — Eu franzo a testa olhando para ele. Claro que não... eu amo você. — Eu não estou. Estou tentando me proteger, — eu sussurro. Porque você não me quer da forma que eu quero você.
— Por favor, Ana, leve essas coisas.
— Christian, eu não quero brigar, eu só preciso do dinheiro.
Ele aperta os olhos, mas eu não estou mais intimidada por ele. Bem, só um pouco. Eu olho impassivelmente de volta, sem piscar ou recuar.
— Você vai levar um cheque? — ele diz acidamente.
— Sim. Eu acho está bom.
Ele não sorri, ele só se vira e anda em direção a sua sala de estudos. Eu dou uma última olhada prolongada ao redor de seu apartamento, para as artes nas paredes, todas abstratas, serenas, legais... frias, mesmo. Encaixadas, eu penso distraidamente. Meus olhos desviam para o piano.
Caramba, se eu tivesse mantido a minha boca fechada, nós teríamos feito amor no piano. Não, fodido, nós teríamos fodido no piano.
Bem, eu teria feito amor. O pensamento fica pesado e triste em minha mente. Ele nunca fez amor comigo, fez? Sempre foi uma foda para ele.
Christian retorna e me entrega um envelope.
— Taylor pagou um bom preço. É um carro clássico. Você pode perguntar para ele. Ele levará você para casa.
Ele acena na direção sobre meu ombro. Eu me viro, e Taylor está parado na porta, vestindo seu terno, tão impecável como sempre.
— Está tudo bem, eu posso ir sozinha para casa, obrigada.
Eu me viro para olhar para Christian, e eu vejo a fúria mal contida em seus olhos.
— Você vai me desafiar a cada momento?
— Porque mudar um hábito de uma vida? — me desculpo com um pequeno encolher de ombros.
Ele fecha seus olhos com frustração e corre a mão pelo cabelo.
— Por favor, Ana, deixe Taylor levar você para casa.
— Eu vou pegar o carro, Senhorita Steele, — Taylor anuncia autoritariamente. Christian acena para ele, e quando eu olho ao redor, Taylor tinha ido.
Eu me viro de volta para encarar Christian. Nós estamos a quatro metros de distância. Ele dá um passo para frente, e instintivamente eu dou um passo para trás. Ele para, e a angústia em sua expressão é palpável, seus olhos cinza, queimando.
— Eu não quero que você vá, — ele murmura, sua voz cheia de saudade.
— Eu não posso ficar. Eu sei o que quero e você não pode me dar isso, e eu não posso dar a você o que você precisa.
Ele dá um outro passo a frente, e eu levanto minhas mãos.
— Não, por favor. — Eu recuo dele. De jeito nenhum eu posso tolerar seu toque agora, me mataria.
— Eu não posso fazer isso.
Agarrando a minha mala e minha mochila, eu me dirijo para o corredor de entrada. Ele me segue, mantendo uma distância cautelosa. Ele pressiona o botão do elevador, e a porta abre. Eu entro.
— Adeus, Christian, — eu murmuro.
— Ana, adeus, — ele diz suavemente, e ele parece completamente, totalmente quebrado, um homem em uma dor agonizante, refletindo como eu me sinto por dentro. Eu desvio o meu olhar para longe dele antes que eu mude de ideia e tente confortá-lo.
As portas do elevador fecham, e me leva rapidamente para o térreo e para o meu inferno pessoal.
Taylor segura à porta aberta para mim, e eu entro no banco traseiro do carro. Eu evito contato visual. Constrangimento e vergonha me lavam. Eu sou um completo fracasso. Eu tinha a esperança de arrastar meu Cinquenta Sombras para a luz, mas provou ser uma tarefa além das minhas pobres habilidades. Desesperadamente, eu tento manter as emoções depositadas em um compartimento. Quando no dirigimos em direção a 4th Avenida, eu olho fixamente para fora da janela, e a enormidade do que eu tinha feito lentamente me lava. Merda, eu o deixei. O único homem que eu amei. O único homem com quem eu já dormi.
Eu suspiro e as barragens estouram. As lágrimas escorrem espontaneamente e indesejáveis pelas minhas bochechas, e eu as enxugo apressadamente com meus dedos, lutando com a minha mala pelos meus óculos de sol. Quando nós paramos em algum semáforo, Taylor segura um lenço de linho para mim. Ele não diz nada e não olha na minha direção, e eu tomo isso com gratidão.
— Obrigada, — eu resmungo, e esse pequeno ato discreto de bondade é a minha ruína. Eu sento de volta no assento luxuoso de couro e choro.
O apartamento está dolorosamente vazio e desconhecido. Eu não vivi aqui por tempo suficiente para me sentir como em casa. Eu me dirijo diretamente para meu quarto, e lá, pendurado frouxamente no final da minha cama, está um balão de helicóptero muito triste e murcho. Charlie Tango, parecendo e sentindo exatamente como eu. Eu o agarro com raiva e tiro da minha cama, tirando a gravata e abrançando-o. Oh, o que eu fiz?
Eu caio na minha cama, de sapato e tudo, e uivo. A dor é indescritível... física, mental... metafísica... está por toda parte, penetrando na medula óssea. Luto.
Isso é luto, e eu o trouxe para mim. Bem no fundo, um pensamento desagradável e sem ser solicitado vem da minha deusa interior, seu lábio enrolado com um rosnado... a dor física da mordida de um cinto não é nada, nada comparado com essa devastação. Eu me enrolo, desesperadamente agarrando o balão de alumínio e o lenço de Taylor, e me entrego a minha dor.
Fim da Parte Um
[1] Frédéric François Chopin foi um pianista francês nascido a Polonia e compositor para piano da era romântica. É amplamente conhecido como um dos maiores compositores para piano e um dos pianistas mais importantes da história.