Capítulo 25
Capítulo 25

Minha mãe me abraça forte.

— Ouça seu coração, querida, e por favor, por favor, procure não dar demasiada importância às coisas. Relaxe e desfrute. É muito jovem, céus. Ainda tem muita vida pela frente, viva-a. Você merece o melhor.

Suas tristes palavras sussurradas ao meu ouvido me confortam. Ela Beija meu cabelo.

— Ai, mamãe.

Agarro-me em seu pescoço e, de repente, meus olhos se enchem de lágrimas.

— Carinho, já sabe o que dizem: terá que beijar muitos sapos para encontrar o príncipe encantado.

Dou-lhe um sorriso retorcido, agridoce.

— Parece que beijei um príncipe, mamãe. Espero que não se transforme em sapo.

Ela me brinda com seu sorriso mais terno, maternal e amoroso e enquanto nos abraçamos de novo, percebo o quanto amo esta mulher.

— Ana, estão chamando seu voo — Bob me avisa nervoso.

— Irá me visitar, mamãe?

— É obvio, querida... em breve. Amo você.

— Eu também.

Quando ela me solta, tem os olhos vermelhos das lágrimas contidas. Odeio ter que deixá-la. Abraço Bob, dou meia volta e me encaminho ao portão de embarque; hoje não tenho tempo para a sala VIP.Não quero olhar para trás, mas faço... e vejo Bob abraçando minha mamãe, que chora desconsolada com as lágrimas escorrendo pelas bochechas. Já não posso conter mais as minhas. Abaixo a cabeça e cruzo o portão de embarque, sem levantar os olhos do branco e resplandecente chão, turvado através de meus olhos empapados de lágrimas.

Uma vez a bordo, rodeada do luxo da primeira classe, me encolho no assento e tento me recompor. Sempre é difícil e doloroso me separar de minha mãe; ela é atrapalhada, desorganizada, mas também perspicaz, e me ama muito. Com um amor incondicional, que toda criança merece de seus pais. O rumo que tomam meus pensamentos me faz franzir o cenho, pego meu Black-Berry e o olho consternada.

O que sabe Christian de amor? Parece que não teve amor incondicional durante sua infância. Aperta-me o coração e, como um vento suave, me vem à cabeça as palavras de minha mãe: "Sim, Ana. Deus, o que mais precisa? Uma placa luminosa na sua testa?". Acredita que Christian me ama, mas, claro, ela é minha mãe, como não vai pensar assim? Para ela, mereço o melhor. Franzo o cenho. É verdade, e, em um instante de assombrosa lucidez, percebo. É muito simples: eu quero seu amor. Necessito que Christian Grey me ame. Por isso temo tanto nossa relação, porque, em um nível profundo e existencial, reconheço em meu interior um desejo incontrolável e profundamente enraizado de ser amada e protegida.

E, devido as suas Cinquenta sombras, me contenho. O sadismo era uma distração do verdadeiro problema. O sexo é alucinante, e ele é rico, e bonito, mas tudo isso não vale nada sem seu amor, e o mais desesperador é que não sei se ele é capaz de amar. Nem sequer se ama a si mesmo. Lembro o desprezo que sentia por si mesmo, e que o amor de sua mãe era a única manifestação de afeto que encontrava "aceitável". Castigar, açoitar, bater, e tudo o que poderia fazer para elevar sua relação, não se considerava digno de amor. Por que se sentia assim? Como podia se sentir assim? Suas palavras ressonam em minha cabeça: "É muito difícil crescer em uma família perfeita quando você não é perfeito".

Fecho os olhos, imagino sua dor, e não alcanço a compreensão. Estremeço ao pensar que possivelmente falei muito. O que eu teria confessado a Christian em sonhos? Que segredos eu revelei?

Olho fixamente meu Black-Berry com a vaga esperança de que ele me ofereça respostas. Como era de esperar, não se mostrava muito comunicativo. Ainda não iniciamos a decolagem, assim dava para mandar um email para minhas Cinquenta Sombras.

 

 

 

 

 

 

De: Anastásia Steele

Data: 3 de junho de 2011 12:53 EST

Para: Christian Grey

Assunto: indo para casa

 

Querido senhor Grey:

Já estou comodamente instalada na primeira classe, na qual te agradeço. Conto os minutos que faltam para vê-lo esta noite e possivelmente te torturar para te arrancar a verdade sobre minhas revelações noturnas.

 

Sua Ana x

 

 

 

 

 

 

 

De: Christian Grey

Data: 3 de junho de 2011 09:58

Para: Anastásia Steele

Assunto: indo para casa

 

Anastásia, desejo muito vê-la.

       Christian Grey

       CEO, Grey Participações e Empreendimentos Inc.

 

 

 

 

Sua resposta me faz franzir o cenho. Soa cortante e formal, não está escrita em seu habitual estilo sucinto, mas criativo.

 

 

 

De: Anastásia Steele

Data: 3 de junho de 2011 13:01 EST

Para: Christian Grey

Assunto: indo para casa

Queridíssimo senhor Grey:

 

Acredito que tudo vá bem com respeito ao "problema". O tom de seu email me parece preocupante.

 

 Ana x

 

 

De: Christian Grey

Data: 3 de junho de 2011 10:04

Para: Anastásia Steele

Assunto: indo para casa

 

Anastásia:

O problema poderia estar melhor. Já embarcou? Se o estiver, não deveria estar me mandando e-mails. Esta se pondo em perigo e transgredindo diretamente as normas relativa a sua segurança pessoal. Sobre os castigos é sério.

 

       Christian Grey

       CEO, Grey Participações e Empreendimentos Inc.

 

 

Merda. Muito bem. Deus... O que esta acontecendo? Qual será "o problema"?  Taylor pediu demissão, Christian perdeu uns milhões na Bolsa de Valores... então.

 

 

 

De: Anastásia Steele

Data: 3 de junho de 2011 13:06 EST

Para: Christian Grey

Assunto: Reação desmedida

 

Querido senhor casca-grossa:

 

As portas do avião ainda estão abertas. Estamos atrasados, mas decolamos em dez minutos. Meu bem-estar e dos passageiros que estão ao meu redor está assegurado. Pode guardar suas mãos por agora.

 

Senhorita Steele

 

 

De: Christian Grey

Data: 3 de junho de 2011 10:08

Para: Anastásia Steele

Assunto: Desculpas; mãos guardadas

 

Sinto sua falta e de sua língua afiada, senhorita Steele.

Quero que chegue em casa sã e salva.

 

       Christian Grey

       CEO, Grey Participações e Empreendimentos Inc.

 

 

 

De: Anastásia Steele

Data: 3 de junho de 2011 13:10 EST

Para: Christian Grey

Assunto: Desculpas aceitas

 

Estão fechando as portas. Você não vai ouvir o bip das minhas mensagens, ainda mais com a sua surdez.

Até mais tarde.

 

Ana x

 

 

Desligo o Black-Berry, incapaz de me liberar da angústia. Acontecia alguma coisa com Christian. Para que "o problema" tenha escapado de suas mãos. Encosto no assento, olhando o compartimento do bagageiro onde guardei minhas bolsas. Está manhã, com a ajuda de minha mãe, comprei para Christian um pequeno presente para lhe agradecer as viagens de primeira classe e os voos de planador. Sorrio ao lembrar da experiência do planador... Um autêntico gozador. Ainda não sei se darei a ele o brinquedo que comprei. Agora me parece infantil; ou, se estiver de humor estranho, talvez não.

Uma parte de mim esta desejando voltar, mas outra teme o que me espera no final da viagem. Enquanto repasso mentalmente as distintas possibilidades a respeito de qual pode ser "o problema", tenho em conta que, uma vez mais, o único lugar livre é o que está a meu lado. Meneio a cabeça ao pensar que possivelmente Christian pagou pela parte conjugada para que ela não falasse com ninguém. Descarto a ideia absurda: Pensando que não poderia haver ninguém tão controlador, tão ciumento. Quando o avião entra em pista, fecho os olhos.

Oito horas depois, saio do terminal de chegada de Sa-tac e encontro Taylor me esperando, segurando um letreiro que diz SENHORITA A. STEELE.

Que exagero! Mas me alegro ao vê-lo.

— Olá, Taylor!

— Senhorita Steele, me saúda com formalidade, mas detecto um traço risonho em seus intensos olhos marrons.

Tão impecável como sempre: num elegante traje cinza escuro, camisa branca e gravata também cinza.

— Já te conheço, Taylor, não precisava de cartaz. Além disso, agradeceria se me chamasse de Ana.

— Ana. Permita que eu leve sua bagagem?

— Não, eu mesma posso levar. Obrigada.

 Apertou os lábios visivelmente.

— Mas se você ficar mais tranquilo levando-a... pegue-a.

— Obrigado. Ele pega a mochila e a mala recém comprada que minha mãe me deu de presente. Por aqui, senhora.

Suspiro. É tão educado... Recordo de algo que queria apagar da minha memória, que este homem comprou roupas intimas para mim. De fato e isso me inquieta, foi o único homem que me comprou roupa intimas. Nem sequer Ray teve que passar por esse apuro. Caminhamos em silencio até o Audi SUV negro que esperava lá fora, no estacionamento do aeroporto, ele abre a porta para mim. Enquanto subo, me pergunto se foi uma boa ideia ter colocado uma saia tão curta na minha volta a Seattle. Na Geórgia me parecia elegante e apropriada; aqui me sinto nua. Assim que Taylor colocou minha bagagem no porta-malas, saímos para o Escala.

Avançamos devagar, apanhados pela hora do rush o tráfego era intenso. Taylor não tirava os olhos da estrada. Descrevê-lo como taciturno seria muito pouco.

Não suportando mais o silêncio.

— Como vai Christian, Taylor?

— O senhor Grey está preocupado, senhorita Steele.

Sim, deve estar se referindo ao "problema". Achei uma fonte de ouro.

— Preocupado?

— Sim, senhora.

Olho carrancuda para Taylor e ele me devolve o olhar pelo retrovisor; nossos olhos se encontram. Não vai me contar mais. Droga, é tão fechado quanto o controlador obsessivo.

— Ele está bem?

— Acredito que sim, senhora.

— Se sente mais cômodo me chamando de senhorita Steele?

— Sim, senhora.

— Ah, bem.

Isso acaba por completo com a nossa conversa, assim seguimos em silêncio. Começo a pensar no recente deslize de Taylor, quando me disse que Christian estava de mau humor, foi uma distração. Ou melhor se envergonhava de ter comentado, ele se preocupava por ter sido desleal. O silêncio me deixava asfixiada.

— Poderia pôr música, por favor?

— Certamente, senhora. O que gosta de ouvir?

— Algo relaxante.

— Algo relaxante.

Vejo desenhar um sorriso nos lábios do Taylor quando nossos olhares voltam a se cruzar brevemente no retrovisor.

— Sim, senhora.

Aperta uns botões no painel e os suaves acordes do Canon do Pachelbel inundam o espaço que nos separa. OH, sim...  era isso que me estava fazendo falta.

— Obrigada.

Encosto-me no assento enquanto entramos em Seattle, a um ritmo lento mas constante, pela interestadual 5.

Vinte e cinco minutos depois, estamos na frente da impressionante fachada do Escala.

— Vamos senhora — me diz, abrindo a porta. — Agora vou subir a bagagem.

Sua expressão era calma, cálida, afetuosa inclusive, como um tio querido.

Isso... Tio Taylor, boa ideia.

— Obrigada por ir me buscar.

— Um prazer, senhorita Steele.

Sorri, e eu entro no edifício. O porteiro me saúda com a cabeça e com a mão.

Enquanto subo para o trigésimo andar, sinto milhares de borboletas batendo suas asas e voando pelo meu estômago. Por que estou tão nervosa? Sei que é porque não tenho nem ideia de como esta o humor de Christian quando eu chegar. Minha deusa interior estava confiante para um tipo especifico de humor; meu subconsciente, como eu, parece um monte de nervos.

Abrem-se as portas do elevador e me encontro no vestíbulo. Parece-me tão estranho que Taylor não me receba. Está estacionando o carro, claro. No salão, vejo Christian falando no Black-Berry enquanto contempla a cidade de Seattle pela janela. Usa um traje cinza com o casaco desabotoado e está passando a mão pelo cabelo. Está inquieto, tenso inclusive. O que esta acontecendo? Inquieto ou não, é sempre um prazer olhá-lo. Como pode ser tão... irresistível?

— Nem um pouco... como... Sim.

Virou-se, e me vê, e sua atitude muda por completo. Passa da tensão ao alívio e logo a outra coisa: um olhar que chama a atenção diretamente da minha deusa interior, um olhar de sensual a carnal, em seus ardentes olhos cinza.

Minha boca seca e o desejo renasce dentro de mim ... ui.

— Me mantenha informado — ele fala decidido e autoritário enquanto avança com passos decididos para mim.

Espero paralisada que cubra a distância que nos separa, me devorando com o olhar. Minha nossa, algo esta acontecendo... A tensão de sua mandíbula, a angústia de seus olhos. Tira seu casaco, a gravata e, pelo caminho, os joga no sofá. Logo me envolve com seus braços e me aperta contra seu corpo, com força, rápido, me agarrando pelos ombros para levantar minha cabeça, e me beija como se desse a vida por isso.

Que diabos esta acontecendo aqui? Tira com violência o prendedor do meu cabelo, mas pouco me importa. Sua forma de me beijar me parece primária e desesperada. Por isso será que, neste momento me necessita tanto? Eu jamais me senti tão desejada. Parece escuro, sensual, alarmante, tudo de uma vez só. Devolvo o beijo com igual ardor, afundando os dedos em seus cabelos, retorcendo-os Nossas línguas se entrelaçam, a paixão e o ardor resplandece entre nós. Divino, ardente, sexy, e seu cheiro de gel de banho e de Christian me excitam muito. Separa sua boca da minha e fica me olhando, me prende em uma emoção inefável.

— O que aconteceu? — pergunto.

— Alegra-me muito que tenha voltado. Tome banho comigo. Agora.

Não sei se me pede isso ou me ordena isso.

— Sim — sussurro e, me agarrando pela mão, me tira do salão e me leva a seu dormitório, ao banheiro.

Uma vez lá, me solta e abre a torneira da banheira super espaçosa. Vira devagar e me olhe, excitado.

— Eu gosto de sua saia. É muito curta — diz com voz grave. —Tem pernas lindas.

Tira os sapatos e se abaixa para tirar também as meias três quartos, sem afastar os olhos de mim. Seu olhar voraz me deixa muda. Uau, eu desejo tanto este deus grego... Imito-o e tiro as sapatilhas negras. De repente, me agarra e me empurra contra a parede. Beija-me no rosto, o pescoço, os lábios... Agarra-me os cabelos.

Sinto os azulejos frios e suaves nas minhas costas quando se aproxima tanto de mim que me deixa emparedada entre seu calor e a fria porcelana. Timidamente, me prendo em seus braços e ele grunhe quando aperto com força.

— Quero fazer isso agora. Aqui, rápido, duro — Diz, e põe as mãos nas minhas coxas e sobe a saia. Ainda está menstruada?

— Não — respondo me ruborizando.

— Bom.

Desliza os dedos pelas calcinhas brancas de algodão e, de repente, se agacha para arrancá-la de uma vez só. Tenho a saia totalmente levantada e enrugada, dessa forma estou nua da cintura para baixo, ofegando, excitada. Agarra-me pelos quadris, me empurrando de novo contra a parede, e me beija no ponto onde se encontram minhas pernas. Agarrando-me pela parte superior de ambas as coxas, separa as minhas pernas. Grito com força ao notar que sua língua acaricia meu clitóris. Deus... Jogo a cabeça para trás sem querer e gemo, me agarrando a seu cabelo.

Sua língua é desumana, forte e persistente, me melando, dando voltas e voltas sem parar. É delicioso e a sensação é tão intensa que quase é dolorosa. Começa a acelerar; então, para. O que? Não! Ofego com a respiração entrecortada, e o olho impaciente. Pega meu rosto com ambas as mãos, me segura com firmeza e me beija com violência, colocando a língua na minha boca para que eu saboreie minha própria excitação. Logo abaixa sua cueca e libera sua ereção, me agarra pelas coxas por trás e me levanta.

— Enrosca as pernas em minha cintura, bebê — me ordena, tremendo, tenso.

Faço o que me diz e me penduro nele, e ele, com um movimento rápido e resolvido, me penetra até o fundo.

— Ah! — Gemo, grito. Agarra minha bunda, cravando os dedos na suave carne, e começa a se mover, devagar no começo, com um ritmo fixo, mas, assim que perde o controle, acelera, cada vez mais.

— Ahhh! — Jogo a cabeça para trás e me concentro nessas sensações invasoras, castigadoramente celestiais, que me empurra e me empurra para frente, cada vez mais alto e, quando já não posso mais aguentar, estralo ao redor de seu membro, entrando na espiral de um orgasmo intenso e devorador. Ele se deixa levar com um gemido profundo e afunda a cabeça em meu pescoço e afunda seu membro ainda mais em mim, grunhindo escandalosamente enquanto se deixa ir.

Logo que pode respirar, me beija com ternura, sem se mover, sem sair de mim, e eu o olho sentindo saudades, sem chegar a vê-lo. Quando por fim consigo olhá-lo, se retira devagar e me levanta com força para que possa pôr os pés no chão. O banheiro está cheio de vapor e faz muito calor. Estou com roupas de mais.

— Parece que você ficou alegre ao me ver, — murmuro com um sorriso tímido.

Contrai a boca, risonho.

— Sim, senhorita Steele, acredito que minha alegria é mais do que evidente. Veem, deixa que te leve a banheira.

Desabotoa os três botões seguinte camisa, solta os punhos, tira a camisa pela cabeça e a joga no chão. Logo tira as calças do traje e a boxer de algodão e os joga com o pé. Começa a desabotoar os botões da minha blusa branca enquanto o observo; anseio poder tocar seu peito, mas me contenho.

— Como foi sua viagem? — Pergunta calmo.

Parece muito mais tranquilo agora que desapareceu sua inquietação, ela se dissolveu em nossa transa.

— Bem, obrigada — murmuro, ainda sem fôlego. — Obrigada outra vez pelas passagens. É muito mais agradável viajar de primeira classe. — Sorrio para ele timidamente. — Tenho algo pra te contar acrescento nervosa.

— Sério?

Olha-me enquanto desabotoava o último botão, deslizou a blusa pelos braços e a atirou com o resto da roupa.

— Consegui um trabalho.

Ele ficou imóvel, logo sorri com ternura.

— Parabéns, senhorita Steele. Vai me dizer aonde agora? Provoca-me.

— Não sabe?

Nega com a cabeça, carrancudo.

— Por que deveria saber?

— Dada a sua tendência de perseguição, pensei que saberia...

Encolho-me ao ver que a expressão dele muda.

— Anastásia, jamais me ocorreria interferir em sua carreira profissional, salvo que me pedir isso, claro.

Parecia ofendido.

— Então, não tem nem ideia de que editora é?

— Não. Sei que há quatro editoras em Seattle, assim imagino que é uma dessas.

— SIP.

— Ah, a mais pequena, bem. Muito bem. Inclina-se e me beija a frente. Esta pronta? Quando começa?

— Na segunda-feira.

— Tão logo, não? Mais é certo que desfrute de ti enquanto posso. Vire-se.

Desconcerta-me a naturalidade que me ordena, mas faço o que me diz, e ele desabotoa o meu prendedor e abaixa a barra da saia. Abaixa-me e aproveita para me agarrar o traseiro e me beijar o ombro. Inclina-se sobre mim e me cheira os cabelos, inspirando fundo. Aperta minha bunda.

— Embriaga-me, senhorita Steele, e me acalma. Uma mistura interessante.

Beija-me meu cabelo. Logo me pega pela mão e me enfia na ducha.

— Ai.

A água está visivelmente fervendo. Christian sorri enquanto a água cai por cima dele.

— Esta um pouquinho quente.

E, no fundo, tem razão. Sinto as maravilhas de tirar de cima de mim o suor da calorosa Georgia e o do sexo que acabamos de fazer.

— Vire-se — me ordena, e eu obedeço e me ponho de cara para a parede. Quero te lavar — murmura.

Pega o gel e joga um pouco na mão.

— Tenho algo para te contar — sussurro enquanto me ensaboa os ombros.

— Ah, é? Diga.

Respiro fundo e me armo de coragem.

— A exposição fotográfica do meu amigo José será inaugurada na quinta-feira em Portland.

Suas mãos param e ficam suspensas sobre meus seios. Dei ênfase em especial à palavra "amigo".

— Sim, e o que acontece? — Pergunta muito sério.

— Disse a ele que iria. Quer vir comigo?

Depois do que me pareceu uma eternidade, pouco a pouco começa a me lavar outra vez.

— A que horas?

— A que horas?

— A inauguração é às sete e meia.

Beija-me a orelha.

— Certo.

Em meu interior, meu subconsciente relaxa, desaba e cai pesadamente no velho e maltratado cérebro.

— Estava nervosa porque tinha que me perguntar isso?

— Sim. Como sabe?

— Anastásia, acaba de relaxar o corpo inteiro — diz seco.

— Bom, parece que você é... um pouco ciumento.

— Sou sim, — diz ameaçador. — E te fará bem em lembrar. Mas obrigado por perguntar. Iremos no Charlie Tango.

Ah, no helicóptero, claro... Estou boba... Outro vôo... imagino! Sorrio.

— Posso te lavar? — pergunto.

— Parece que não — murmura, e me beija brandamente e me viro para recuperar a dor da negativa.

Faço companhia à parede enquanto ele acaricia as minhas costas com sabão.

— Me deixará te tocar algum dia? — Pergunto audazmente.

Voltou a parar, a mão cravada em meu traseiro.

— Apoie as mãos na parede, Anastásia. Vou te penetrar outra vez — sussurra ao ouvido me agarrando pelos quadris, e sei que a discussão terminou.

Mais tarde, estamos sentados na cozinha, eu de penhoar, depois de nós termos comido a deliciosa massa Alle Vongole da senhora Jones.

— Mais vinho? — pergunta Christian com um brilho em seus olhos cinzas.

— Um pouquinho, por favor.

O Sancerre é revigorante e delicioso. Christian me serve e logo se serve também.

— Como vai o "problema" que te trouxe para Seattle? — pergunto timidamente.

Franziu o cenho.

— Fora de controle — fala com amargura. Mas você não se preocupe com isso, Anastásia. Tenho planos para ti esta noite.

— Ah, é?

— Sim. Quero você no quarto de jogos dentro de quinze minutos.

Levanta-se e me olha.

— Pode se preparar em seu quarto. O guarda roupas agora está cheio de roupa para ti. Não admito discussão a respeito.

Espremendo os olhos, me desafiando para dizer qualquer coisa. Ao ver que não o faço, vai com passo rápidos a seu escritório.

Eu! Discutir? Contigo, Cinquenta Sombras? Pelo bem de meu traseiro, não. Fico sentada no banco, momentaneamente estupefata, tentando digerir esta última informação. Comprou roupas para mim. Olho o nada de forma exagerada, sabendo bem que não posso reclamar. Carro, móveis, motorista, roupas... Qual seria o próximo: um maldito apartamento, e então já serei sua querida em todas as regras.

Jesus! Meu subconsciente está em estado crítico. Ignoro e subo a meu quarto. Porque sigo tendo meu quarto. Por quê? Pensei que tinha mudado ao deixar dormir com ele. Suponho que não está acostumado a dividir seu espaço pessoal, claro que eu tampouco. Consola-me a ideia de ter ao menos um lugar onde posso me esconder dele.

Ao examinar a porta de minha habitação, descubro que tem fechadura, mas não chave. Digo a mim mesma que possivelmente a senhora Jones tenha uma cópia. Perguntarei a ela. Abro a porta do guarda roupas e volto a fechar rapidamente. Puta merda... gastou uma fortuna. Lembrei de Kate, com toda essa roupa perfeitamente alinhada e pendurada nas barras. No fundo, sei que tudo vai ficar bem, mas não tenho tempo para isso agora: esta noite tenho que ir até o quarto vermelho da... dor... ou do prazer, espero.

Estou só de calcinhas, encostada junto à porta. Tenho o coração na boca. Minha nossa, pensava que com o sexo no banho teria tido o bastante. Este homem é insaciável, ou possivelmente todos os homens o sejam. Não sei, não tenho com quem comparar. Fecho os olhos e procuro me acalmar, conectar com tudo que há em meu interior. Por lá, em alguma parte, escondida atrás da deusa que levo dentro de mim.

 A espera faz borbulhar meu sangue pelas veias como um refresco efervescente. O que ele irá fazer comigo? Respiro fundo, devagar, mas não posso negar: estou nervosa, excitada e já estou molhada. Isto é tão... Quero pensar que é errado, mas de algum modo sei que não é assim. É certo com Christian. É o que ele quer e, depois destes últimos dias... depois de tudo o que tem feito, tenho que lhe dar valor e aceitar o que me diz que precisa, seja o que for.

Lembro seu olhar quando cheguei hoje, sua expressão ofegante, a forma resolvida que se dirigiu para mim, como se eu fosse um oásis no deserto.

Faria quase tudo para voltar a ver essa expressão. Aperto as coxas de prazer ao pensar nele, e isso me recorda que devo separar as pernas. Faço.

Quanto me fará esperar? A espera me está matando, me mata de desejo turvo e provocante. Dou uma olhada no quarto que esta iluminado: a cruz, a mesa, o sofá, o banco... a cama. Vejo-a imensa, e está coberta com lençóis vermelhos de cetim. Que objeto usará hoje?

A porta se abre e Christian entra como um sopro, me ignorando por completo. Abaixo a cabeça em seguida, olho as minhas mãos e separo com cuidado as pernas. Christian deixa algo sobre a enorme cômoda que existe junto à porta e se aproxima devagar na cama. Permito-me olhá-lo por um instante e quase para meu coração. Esta descalço, com o torso descoberto e com um desses jeans gastos com o botão superior desabotoado. Deus, está tão gotoso... Meu subconsciente se abana com desespero e a minha deusa interior se balança e convulsiona com um primitivo ritmo carnal. Vejo que esta muito disposta. Umedeço os lábios instintivamente. O sangue corre mais rápido por todo o meu corpo, densa e carregada de luxuria. O que vai fazer comigo?

Dá meia volta e se dirige tranquilamente até a cômoda. Abre uma das gavetas e começa a tirar coisas e às colocar em cima. Minha curiosidade me mata, mas resisto à imperiosa necessidade de dar uma olhada. Quando termina o que está fazendo, se coloca diante de mim. Vejo seus pés descalços e quero beijar até o último centímetro deles, passar a língua pela pele, chupar cada um dos seus dedos.

— Está linda, — diz.

Mantenho a cabeça abaixada, consciente de seu olhar fixo e de que estou visivelmente nua. Noto que o rubor se estende devagar pela face. Inclina-se e pega meu queixo, me obrigando a olhar para ele.

— É uma mulher linda, Anastásia. E é toda minha — murmura. Levanta-te — ordena em voz baixa, transbordando de promessas sensuais.

Tremendo, fico de pé.

— Olhe para mim, — diz, e elevo meus olhos a seus olhos ardentes.

É seu olhar de amo: frio, duro e sexy, com sombras de pecado inimaginável em um só olhar provocador. Seca minha boca e sei em seguida que vou fazer o que me pedir. Um sorriso quase cruel se desenha em seus lábios.

— Não assinamos o contrato, Anastásia, mas já falamos sobre os limites. Além disso, recordo que temos as palavras de segurança, certo?

Minha Nossa... o que terá planejado para que eu vá precisar das palavras de segurança?

— Quais são? — Pergunta de maneira autoritária.

Franzo um pouco o cenho para ouvir a pergunta e seu gesto se endurece visivelmente.

— Quais são as palavras de segurança, Anastásia? — Diz muito devagar.

— Amarelo, — murmuro.

— E? — insiste, apertando os lábios.

— Vermelho, — digo.

— Não as esqueça.

E não posso evitar... arqueio uma sobrancelha e estou a ponto de  recordar a ele minha nota media, mas o repentino olhar gélido e cinzento me detém em seco.

— Cuidado com essa boquinha, senhorita Steele, se não quer que a corte em rodelas. Entendido?

Trago saliva instintivamente. Certo. Pisco muito rápida, arrependida. Na realidade, me intimida mais seu tom de voz que a ameaça em si.

— E bem?

— Sim, senhor — falo atropeladamente.

— Boa garota. — Fez uma pausa e me olha. — Não é que vai precisar das palavras de segurança porque vai doer em você, mas sim por que o que vou fazer vai ser intenso, muito intenso, e preciso que me guie. Entendido?

Na verdade não. Intenso? Uau.

— Isso é sobre tato, Anastásia. Não vais poder reclamar nem me ouvir, mas poderá me sentir.

Franzindo o cenho. Não vou te ouvir? E como isso vai funcionar?  Se vira. Em cima da cômoda há uma caixa brilhosa plana de cor preta. Quando passou a mão por cima, a caixa se dividiu em dois, abrindo duas portas e ficou à vista um Cd player com um monte de botões. Christian aperta vários em sequência. Não acontece nada, mas ele parece satisfeito. Eu estou desconcertada. Quando se vira de novo para me olhar, vejo aquele seu sorrisinho de "Tenho um segredo".

— Vou te amarrar na cama, Anastásia, mas primeiro vou vendar seus olhos e não vai poder me ouvir. Colocou o iPod que levava nas mãos. A única coisa que vai ouvir é a música que vou pôr para você.

Certo. Um interlúdio musical. Não é precisamente o que esperava. Alguma vez fez o que eu esperava?

Deus, espero que não seja rap.

— Vem.

Pega-me pela mão e me leva a antiga cama de dossel. Há correntes nos quatro cantos: uns cadeados metálicos e finos com pulseiras de couro brilhando sobre o cetim vermelho.

Uf, meu coração vai sair do peito. Derreto de dentro para fora; o desejo percorre o meu corpo inteiro. Poderia eu estar mais excitada?

— Fique aqui de pé.

Estou olhando para a cama. Inclina-se para frente e me sussurra ao ouvido:

— Espera aqui. Não tire os olhos da cama.  Imagine-se aí deitada, amarrada e completamente a minha mercê.

Minha Nossa.

Ele se afasta por um momento e o ouço pegar algo perto da porta. Tenho todos os sentidos hiper-alertas; a audição a mais aguçada. Pegando algo do rack de chicotes e palmatórias que estavam junto à porta. Minha nossa. O que vai fazer comigo?

Noto que ele esta nas minhas costas. Pega-me pelos meus cabelos, faz um montinho e começa a trançar eles.

— Embora eu goste de suas trancinhas, Anastásia, estou impaciente para te ter, você vai ter que se conforma só com uma, — diz com voz grave e suave.

Roça as minhas costas de vez em quando com seus dedos hábeis enquanto me faz a trança, e cada carícia acidental é como uma doce descarga elétrica em minha pele.

Ele prende o final com um elástico de cabelo, então delicadamente puxa a trança de forma que me vejo obrigada a me inclinar para seu corpo. Puxa de novo, desta vez para um lado, e eu inclino a cabeça e lhe dou acesso a meu pescoço. Inclina-se e me enche de pequenos beijos, percorrendo a base da orelha até o ombro com os dentes e a língua. Cantarola em voz baixa enquanto o faz e o som ressona em mim por dentro. Justo lá... lá embaixo, em minhas vísceras. Gemo brandamente sem poder evitar.

— Bom, — diz respirando contra minha pele.

Levanta as mãos diante de mim; seus braços acariciam os meus. Na mão direita leva um chicote de tiras. Lembro-me de minha primeira visita a este quarto.

— Toque-o, — sussurra, e me soa como o próprio diabo.

Meu corpo se incendeia em resposta. Timidamente, abro os braço e roço as largas franjas do chicote. Tem muitas faixas largas, todas suave e com pequenas contas nas pontas.

— Vou usar ele. Não vai doer, mas fará que corra o sangue pela superfície da pele e fique sensível.

Oh, ele diz que não vai doer.

— Quais são as palavras de segurança, Anastásia?

— Tá... "amarelo" e "vermelho", senhor — sussurro.

— Boa garota.

Deixou o chicote sobre a cama e põe as mãos na minha cintura.

— Não vai precisar, sussurra.

Então pega minha calcinha e a baixa de uma vez só. As tiro pelos pés torpemente, me apoiando no poste da cama.

— Fique quieta — ordena, logo me beija o traseiro e me dá dois beliscões; Fico tensa. Deite-se de barriga para cima acrescenta, me dando uma palmada forte no traseiro que me faz pular.

Apresso-me a subir ao colchão duro e rígido e me deito, olhando Christian. Sinto na pele o cetim suave e frio do lençol. Vejo-o impassível, salvo pelo olhar: em seus olhos brilha uma emoção contida.

— As mãos por cima da cabeça— ordena, e eu obedeço.

Deus... meu corpo está sedento dele. Já o desejo.

— Vire-se, — e pelo canto do olho, vejo ele se dirigir de novo à cômoda e voltar com o iPod e o que parece uma máscara para dormir, similar ao que usei em meu voo a Atlanta. Ao lembrar, me da vontade de rir, mas não consigo que meus lábios respondam. A impaciência me consome. Sei que meu rosto está completamente imóvel e que o olho com os olhos arregalados.

Sentou na borda da cama e coloca em mim o iPod. Tem conectados uns pontos auriculares e tem uma estranha antena. Que estranho... Carrancuda, tento averiguar para que serve.

— Isto vai transmitir ao iPod o que quero que você ouça — diz, dando umas batidinhas na pequena antena e respondendo assim a minha pergunta não formulada. — Eu vou ouvir o mesmo que você, e tenho um comando a distancia para controlar.

Dizia seu habitual sorriso de "Eu sei de algo que você não sabe" e me mostra um pequeno dispositivo plano que parece uma calculadora muito moderna. Inclina-se sobre mim, coloca com cuidado os pontos auriculares nos ouvidos e deixa o iPod sobre a cama por cima de minha cabeça.

— Levanta a cabeça, — ordena, e o faço imediatamente.

Devagar, põe e mim a máscara, passando o elástico pela nuca. Já não vejo. O elástico da máscara segura os pontos auriculares. Ouço ele levantar da cama, mas o som é apagado. Ensurdece-me minha própria respiração, entrecortada e errática, reflexo de meu nervosismo. Christian me agarra pelo braço esquerdo, estica-o com cuidado até o canto esquerdo da cama e me prende na pulseira de couro. Quando termina, acaricia-me o braço inteiro com seus largos dedos. OH! A carícia me produz uma deliciosa sensação entre o calafrio e cosquinhas. Ouço-o circular a cama devagar até o outro lado, onde pega meu braço direito para me prender. De novo passeia seus dedos largos por ele. Minha nossa, estou a ponto de estalar. Por que isso é tão erótico? Vão ate os pés da cama e pega ambos os tornozelos.

— Levanta a cabeça — outra vez e ordena.

Obedeço, e me puxa de forma que os braços ficam completamente esticados e quase suspensos pelas pulseiras. Deus... não posso mover os braços.

Um calafrio de inquietação misturado com uma tentadora excitação percorre meu corpo inteiro e me põe ainda mais molhada. Grunhi. Separando as pernas, prende primeiro o tornozelo direito e logo o esquerdo, de modo que fico bem preso, de braços e pernas abertas, e completamente a sua mercê. Desconcerta-me não poder vê-lo. Escuto com atenção... o que faz? Não ouço nada, apenas a minha respiração e os fortes batimentos do meu coração, que bombeia o sangue com fúria contra meus tímpanos.

De repente, um suave assobio do iPod aparece. Desde dentro de minha cabeça, uma voz angelical canta sem acompanhamento uma nota longa e doce, a que se une imediatamente outra voz e logo mais, minha nossa, um coro celestial, cantando a capela de um hinário antigo. Como se chama isto? Jamais ouvi nada semelhante. Algo quase insuportavelmente suave passeia por meu pescoço, deslizando devagar pela clavícula, pelos peitos, me acariciando, me endurecendo os mamilos... é muito suave, inesperado. Isso é pelo!

Uma luva de pelos?

Christian passeia a mão, sem pressa e deliberadamente, por meu ventre, riscando círculos ao redor de meu umbigo, logo depois de quadril a quadril, e eu trato de adivinhar aonde irá depois, mas a música metida em minha cabeça me transporta. Segue a linha dos meus pelos pubianos, passa entre minhas pernas, por minhas coxas; desce por um, sobe pelo outro, e quase me faz cosquinhas. Unem-se mais vozes ao coro celestial, cada uma com fragmentos distintos, se fundindo gostoso e docemente em uma melodia mais harmoniosa que eu tenha ouvido antes. Eu pego uma palavra "Deus"- e me dou conta de que cantam em latim.

A luva de pelos segue me baixando pelos braços, me acariciando a cintura, subindo de novo pelos peitos. Seu roce me endurece os mamilos e ofego, me perguntando aonde irá sua mão depois. De repente, a luva de pelos desaparece e noto que as faixas do chicote de tiras fluem por minha pele, seguindo o mesmo caminho que a luva, e me resulta muito difícil me concentrar com a música que soa em minha cabeça: é como um tilintar de vozes cantando, tecendo uma tapeçaria etérea de ouro e prata, delicioso e sedoso, que se mistura com o tato do suave em minha pele, me percorrendo... minha nossa. Subitamente, desaparece. Logo, de repente, uma chicotada seca no ventre.

— Aaaggghhh! —grito.

Pega-me de surpresa. Não dói exatamente; mas bem me produz um forte formigamento por todo o corpo. E então volta a me açoitar. Mais forte.

— Aaahhh!

 

— Aaahhh!

Quero me mover, me retorcer, escapar, ou desfrutar de cada golpe, não sei... acaba sendo tão irresistível... Não posso mexer os braços, tenho as pernas presas, estou bem presa. Volta a me açoitar, desta vez nos peitos. Grito. É uma doce agonia, suportável... prazerosa; não, não de forma imediata, mas, com cada novo golpe, minha pele canta em perfeito ritmo com a música que soa na cabeça, e me vejo arrastada a uma parte muito escuro de minha psique que se rende a esta sensação tão erótica. Sim... já entendi. Açoita-me no quadril, logo sobe com golpes rápidos pelo pelos pubiano, segue pelas coxas, pela parte interna, sobe de novo, pelos quadris. Continua enquanto a música alcança um clímax e então, de repente, para de soar. E ele também para. Logo começa o canto outra vez, vai crescendo, e ele me orvalha de golpes e eu grito e me retorço. De novo para, e não se ouve nada, salvo minha respiração entrecortada e meus ofegos descontrolados. Não... o que acontece? O que vai fazer agora? A excitação é quase insuportável. Entrei em uma zona muito escura, muito carnal.

 Noto que a cama se move e que ele se coloca por cima de mim, e o hino volta a começar. Será que ele vai repetir tudo. Desta vez são seu nariz e seus lábios os que me acariciam... passeiam por meu pescoço e minha clavícula, me beijando, me chupando... descendo para meus peitos... Ah! Sai de um mamilo para o outro, passeando a língua ao redor de um enquanto belisca sem piedade o outro com os dedos... Gemo, muito forte, acredito, embora não ouço. Estou perdida, perdida nele... perdida nessas vozes astrais e angélicos... perdida em todas estas sensações das que não posso escapar... completamente a mercê de suas peritas mãos.

 Descende até o ventre, riscando círculos com a língua ao redor do umbigo, seguindo o caminho do chicote e da luva. Gemo. Beija-Me, me chupa, me mordisca... segue abaixo... e de repente tenho sua língua ali, no clitóris. Jogo a cabeça para trás e grito, a ponto de desmaiar, a beira do orgasmo... E então ele para.

 Não! A cama se move e Christian se ajeita entre minhas pernas.  Inclina-se para um poste e, de repente, a corrente do tornozelo desaparece. Subo a perna até o centro da cama, a apoio contra ele. inclina-se para o outro lado e liberta a outra perna. Esfrega ambas as pernas, as espremendo, as massageando, as reavivando.

 Logo me pega pelos quadris e me levanta de forma que já não tenho as costas encostadas na cama; estou arqueada e apoiada só nos ombros. O que? Coloca-se entre minhas pernas... e com uma rápida e certeira investida me penetra... OH, Deus... e volto a gritar. Iniciam as convulsões de meu orgasmo iminente, e então para. Cessam as convulsões... OH, não... vai continuar me torturando.

— Por favor! choramingo.

Pega em mim com mais força... para me advertir? Não sei. Crava os dedos no meu traseiro enquanto eu ofego, assim me manda ficar quieta. Muito lentamente, começa a se mexer outra vez: sai, entra... angustiantemente devagar. Minha nossa... por favor! Grito por dentro e, conforme aumenta o número de vozes do coral, vai aumentando ele seu ritmo, de forma infinitamente controlada, completamente ao som da música. Já não aguento mais.

 — Por favor — suplico a ele, e com um só movimento rápido volta a me deixar na cama e se deita sobre mim, com as mãos nos lados de meus seios, aguentando seu próprio peso, e empurra.

 Quando a música chega a seu clímax, me precipito... Em queda livre... ao orgasmo mais intenso e angustiante que jamais tive, e Christian me segue, investindo forte três vezes mais... até que finalmente fica imóvel e cai sobre mim.

 Quando recupera a consciência e volta de qualquer lugar que tenha estado, Christian sai de mim. A música cessou e noto como ele se estira sobre meu corpo para soltar a pulseira direita. Grunhi ao sentir por fim a mão livre. Em seguida solta a outra, retira com cuidado a máscara de meus olhos e tira os pontos auriculares dos ouvidos. Pisco à luz tênue do quarto e levanto os olhos para seu intenso olhar de olhos cinzas.

— Olá, — murmura.

— Olá, respondo timidamente.

 Em seus lábios se desenha um sorriso. Inclina-se e me beija brandamente.

— Muito bem, — sussurra. — Vire-se.

Minha Nossa... o que me vai fazer agora? Seu olhar se enternece.

— Só vou te dar uma massagem nos ombros.

— Ah, certo.

Viro, tensa, de barriga para baixo. Estou exausta. Christian se senta escarranchado sobre minha cintura e começa a massagear meus ombros. Gemo forte; tem uns dedos fortes e experientes. Inclina-se e beija minha cabeça.

— Que música era essa? — Consigo balbuciar.

— É o coral a quarenta vozes de Thomas Talis, titulado Spem in alium.

— Foi... impressionante.

— Sempre quis fazer ao ritmo dessa peça.

— Não me diga que também foi a sua primeira vez?

— Com certeza, senhorita Steele.

Volto a gemer enquanto seus dedos fazem sua magia em meus ombros.

— Bom, também é a primeira vez que eu transo com essa música, — murmuro sonolenta.

— Mmm... você e eu estamos estreando juntos em muitas coisas, — diz com total naturalidade.

— O que te hei dito em sonhos, Chris... err... senhor?

Interrompe um momento a massagem.

— Disse-me um montão de coisas, Anastásia. Falou de jaulas e morangos, me disse que queria mais e que sentia minha falta.

Ah, graças a Deus.

— Só isso? — Pergunto com evidente alívio.

Christian conclui sua esplêndida massagem e se deita a meu lado, fincando o cotovelo na cama para levantar a cabeça. Olha-me carrancudo.

— O que pensava que tinha dito?

OH, merda.

— Que eu tinha dito que você era feio e arrogante, e que era um desastre na cama.

Franzido ainda mais o cenho

— Certo, está claro que tudo isso é verdade, mas agora me deixou intrigado de verdade. O que é o que me esconde, senhorita Steele?

Pisco com ar inocente.

— Não te escondo nada.

— Anastásia, — lembra.

— Pensava que fosse me fazer rir depois do sexo.

— Pois por aí vamos mal. — Esboça um sorriso. — Não sei contar piadas.

— Senhor Grey! Ha alguma coisa que não sabe fazer? — Digo sorrindo, e ele me sorri também.

— Não, aparentemente contar piadas.

 Adota um ar tão digno que me faz rir.

— Eu também não os conto.

—Eu adoro te ouvir rir, — murmura, se inclina e me beija. — Esconde-me alguma coisa, Anastásia? Vou ter que te torturar para surrupiar isso de você, Sei que algo te preocupa.