Que droga! Beije-me! Eu imploro, mas não me movo. Eu estou paralisada por causa de uma necessidade estranha, desconhecida, completamente cativada por ele. Eu estou olhando fixamente para a boca perfeitamente esculpida de Christian Grey, hipnotizada e ele está olhando para mim, seu olhar encoberto, seus olhos escurecidos.
Ele respira mais rápido que o habitual e eu parei completamente de respirar. Eu estou em seus braços.
Beije-me, por favor. Ele fecha seus olhos, respira fundo e sacode brevemente sua cabeça como se respondesse minha pergunta muda. Quando ele abre seus olhos novamente, é com algum novo propósito, uma vontade de aço.
— Anastásia, você deveria me evitar. Eu não sou homem para você... — ele sussurra.
O quê? De onde veio isso? Seguramente, eu é quem deveria decidir. Eu franzo minha testa para ele e balanço minha cabeça diante da rejeição.
— Respire, Anastásia, respire. Eu vou ficar ao seu lado e irei te soltar agora — ele quietamente diz e se afasta suavemente.
A adrenalina corre por meu corpo, não sei se por causa do ciclista ou da proximidade inebriante de Christian, mas estou fraca e arrepiada. NÃO! Minha mente grita quando ele se afasta e sinto-me roubada. Ele tem suas mãos em meus ombros, segurando-me o comprimento de um braço, analisando minhas reações cuidadosamente. E a única coisa que eu posso pensar é que eu queria ter sido beijada, fiz isto malditamente óbvio e ele não quis. Ele não me quer. Ele realmente não me quer. Eu realmente estraguei o café da manhã.
— Estou bem. — eu respiro, achando minha voz. — Obrigada, — eu murmuro cheia de humilhação. Como eu podia ter interpretado mal a situação entre nós? Eu preciso me afastar dele.
— Pelo que? — Ele franze a testa. Suas mãos não saem de mim.
— Por me salvar. — eu sussurro.
— Aquele idiota estava indo na direção errada. Eu estou contente que eu estava aqui. Eu estremeço só de pensar no que poderia ter acontecido com você. Você quer vir e se sentar no hotel um pouco? — Ele me solta, suas mãos ao seu lado e eu na sua frente me sento uma idiota.
Com uma sacudida, procuro clarear minha cabeça. Eu só quero ir embora. Todas as minhas esperanças inarticuladas foram esmagadas. Ele não me quer. O que eu estava pensando? Eu brigo comigo mesma. O quê Christian Grey poderia querer comigo? Meu subconsciente zomba de mim. Eu me abraço e me viro em direção à rua e noto com alívio que o homenzinho verde do sinal de trânsito apareceu. Rapidamente atravesso a rua, consciente de que Christian Grey está logo atrás de mim. Fora do hotel, eu giro brevemente para enfrentá-lo, mas não posso olhar em seus olhos.
— Obrigada pelo chá e por ter concordado com as fotos. — eu murmuro.
— Anastásia… eu… — Ele para e a angústia em sua voz exige minha atenção, então eu o olho, de má vontade. Seus olhos cinzas são como o deserto, enquanto ele corre a mão pelo cabelo. Ele parece destruído, frustrado e todo o seu controle evaporou.
— O quê, Christian? — Eu fico irritada porque ele não fala.
— Nada.
Eu só quero ir embora. Eu preciso levar meu frágil e ferido orgulho para longe e de alguma maneira curá-lo.
— Boa sorte em seus exames, — ele murmura.
Huh? Isto é por que ele parece tão desolado? Este é o seu grande fora? Desejar-me sorte em meus exames?
— Obrigada. — Eu não posso disfarçar o sarcasmo em minha voz. —Adeus, Sr. Grey. — Eu giro nos meus saltos, fico vagamente espantada quando não tropeço, e sem dar a ele um segundo olhar, eu desapareço em direção à garagem subterrânea.
Uma vez na escuridão do concreto frio da garagem, iluminada com sua luz fluorescente e deserta, eu me debruço contra a parede e ponho minha cabeça em minhas mãos. O que eu estava pensando? Indesejada e sem permissão sinto as lágrimas chegarem. Por que eu estou chorando? Eu afundo no chão, brava comigo por esta reação insensata. Apoio-me em meus joelhos e me fecho ainda mais em mim mesma. Eu desejo sumir. Talvez esta dor absurda possa ficar menor ainda se eu sumir.
Coloco minha cabeça sobre meus joelhos e eu deixo as lágrimas irracionais caírem desenfreadas. Eu estou chorando por algo que nunca tive. Que ridículo. Lamentando por algo que nunca... – minhas esperanças esmigalhadas, meus sonhos despedaçados e minhas expectativas frustradas.
Eu nunca fui rejeitada. Certo…eu sempre fui a última a ser escolhida no basquete ou no vôlei – mas eu entendi que – correr e fazer qualquer outra coisa ao mesmo tempo, como saltar ou lançar uma bola não é minha praia. Eu sou uma negação em qualquer campo esportivo.
Romanticamente, no entanto, eu nunca me expus. Uma vida inteira de inseguranças.
Eu sou muito pálida, muito fraca, muito desprezível, sem coordenação, minha lista longa de culpas continuam. Então eu sempre tenho sido aquela que repelia os admiradores. Houve aquele sujeito em minha classe de química que gostou de mim, mas ninguém nunca havia despertado meu interesse – ninguém exceto o maldito Christian Grey. Talvez eu deva ser mais amável com caras como Paul Clayton e José Rodriguez, no entanto eu acredito que por nenhum deles teria chorado num canto escuro.
Talvez tudo o que eu necessite seja dar um bom grito.
Pare! Pare Agora! - Meu subconsciente está metaforicamente gritando comigo, braços dobrados, apoiando-se em uma perna e batendo seu pé em frustração. Entre o carro, vá para casa, vá estudar. Esqueça ele… Agora! E pare como toda essa porcaria de auto-piedade.
Eu respiro bem fundo e levanto. Componha-se Steele. Eu vou para o carro de Kate, enxugando minhas lágrimas ao mesmo tempo. Eu não irei mais pensar nele. Eu simplesmente posso encarar este incidente como uma experiência e me concentrar nos meus exames.
Kate está sentada na mesa de jantar, com o notebook, quando eu chego. Seu sorriso de boas vindas some quando ela me vê.
— Ana, o que aconteceu?
Ai, não... A inquisição de Katerine Kavanagh. Eu sacudo minha cabeça para ela, como se dissesse — fique fora disso — mas eu poderia perfeitamente estar lidando com um cego, surdo e mudo.
— Você andou chorando. — Ela tem um dom excepcional para enunciar o que é malditamente óbvio, algumas vezes. — O que aquele bastardo fez para você? — ela fala por entre os dentes, e seu rosto, Jesus! ela está apavorada.
— Nada, Kate. — Este é realmente o problema. O pensamento traz um sorriso torto à minha face.
— Então, por que você estava chorando? Você nunca chora. — Ela disse, sua voz se suavizando. Ela fica parada, seus olhos verdes brilhando de preocupação. Ela coloca seus braços ao meu redor e me abraça.
Eu preciso dizer alguma coisa para ela me deixar em paz.
— Eu quase fui atropelada por uma bicicleta. — Era o melhor que eu podia fazer e isso a distraiu imediatamente...dele.
— Jesus, Ana! Você está bem? Está machucada? — Ela me segura na distância dos braços estendidos e faz uma verificação visual de mim.
— Não, Christina me salvou. — eu sussurro. — Mas foi apavorante.
— Eu não estou surpresa. Como foi o café da manhã? Eu sei que você odeia café.
— Eu tomei chá. Foi legal, nada de mais para contar. Eu não sei por que ele me convidou.
— Ele gosta de você Ana. — Ela abaixou seus braços.
— Não mais. Eu não irei mais vê-lo. — Sim, eu consigo lidar com isso.
— Ah é?
Droga. Ela ficou curiosa. Eu vou para a cozinha para que ela não consiga ver meu rosto.
— Sim... Ele está fora do meu nível Kate. — Eu digo tão secamente quanto eu consigo.
— O que você quer dizer com isso?
— Ora, Kate, é óbvio. — Eu giro para encará-la na porta da cozinha.
— Não para mim. — Ela diz. — Está bem, ele tem mais dinheiro que você, mas até ai, ele tem mais dinheiro que muita gente nos Estados Unidos.
— Kate, ele... — Eu dou de ombros.
— Ana, pelo amor de Deus! Quantas vezes eu vou ter de te dizer? Você é realmente linda! — ela me interrompe. Ah não! Esse discurso de novo não!
— Kate, por favor. Eu preciso estudar. — Eu a corto. Ela franze a testa.
— Você quer ler o artigo? Eu já acabei. José tirou fotos maravilhosas!
Será que eu preciso de uma lembrança visual da beleza de Christian eu – não- te- quero Grey?
— Claro. — Eu coloco um sorriso no rosto, como se fosse mágica e vou até o notebook. E lá está ele, olhando para mim em preto e branco, olhando para mim e encontrando minhas falhas.
— Eu finjo ler o artigo, o tempo todo olhando para seu olhar cinzento, procurando na foto alguma pista o porquê dele não ser o homem para mim – em suas próprias palavras. E subitamente, fica extremamente óbvio. Ele é bonito demais. Nós estamos em polos diferentes, em mundos diferentes. Eu tenho a visão de mim mesma como Ícarus, voando perto demais do sol, queimando e caindo como resultado do meu desejo. As palavras dele fazem sentido. Ele não é homem para mim.
Foi isso o que ele quis dizer e faz com que a rejeição dele seja mais fácil de aceitar...Quase. Mas eu posso viver com isso. Eu entendo.
— Está muito bom Kate. — eu digo. — Vou estudar. — Eu não vou mais pensar nele. Eu prometo para mim mesma e abrindo minhas anotações de revisão, começo a ler.
É apenas quando eu estou na cama, tentando dormir, que eu me permito deixar meus pensamentos voltarem para minha estranha manhã. Eu fico voltando à citação “eu não namoro” e eu fico zangada por não ter descoberto esta informação mais cedo, quando eu estava em seus braços mentalmente implorando com cada fibra do meu ser para que ele me beijasse. Ele já havia dito e repetido. Eu viro de lado. Estranhamente eu me pergunto se ele seria celibatário. Eu fecho meus olhos e começo a divagar. Talvez ele esteja se guardando. “Bem, não para você.” Meu subconsciente sonolento me dá um último golpe e me joga na terra dos sonhos.
E esta noite eu sonho com olhos cinzentos, folhas caídas no leite, e eu estou em lugares escuros, com uma luz estranha e eu não sei se estou correndo para alguma coisa ou de alguma coisa... Não está claro.
Eu abaixo minha caneta. Acabei. Meu exame final acabou. Eu sinto o sorriso do gato de Cheschire[1] se espalhar pelo meu rosto. Provavelmente esta é a primeira vez, esta semana, que eu sorrio. É sexta feira, e nós iremos celebrar hoje à noite, realmente celebrar. Acho que irei ficar realmente bêbada. Eu nunca fiquei bêbada antes. Eu olho o pavilhão esportivo procurando por Kate e ela ainda está escrevendo furiosamente, cinco minutos antes de acabar. É isso, o fim da minha vida acadêmica. Nunca mais eu irei sentar em fileiras de ansiedade, isolada, como uma estudante. Por dentro estou fazendo piruetas, sabendo perfeitamente que é o único lugar onde posso fazê-las graciosamente. Kate para de escrever e larga a caneta. Ela procura por mim e eu vejo o seu sorriso do gato de Alice, também.
Nós voltamos para casa em seu Mercedes, nos recusando a discutir a prova final. Kate está mais preocupada com o que irá usar esta noite. E eu estou ocupada procurando pelas chaves na minha bolsa.
— Ana, tem um pacote para você!
Kate está parada nos degraus em frente à porta, com um pacote na mão. Estranho. Eu não fiz nenhum pedido ultimamente na Amazon.
Kate me entrega o pacote e pega as chaves para abrir a porta da frente. Está endereçado a Senhorita Anastásia Steele. Não há endereço ou nome de quem enviou. Talvez seja da minha mãe ou de Ray.
— Provavelmente deve ser dos meus pais.
— Abra! — Kate diz, excitada, enquanto se dirige até a cozinha para pegar nosso “Champagnhe de comemoração de exames finais”.
Eu abro o pacote e dentro eu acho uma caixa dourada com três livros semi parecidos, recobertos com um pano antigo, cheirando a hortelã e um cartão branco. Escrito nele, com uma letra cursiva e negra, está:
“Por que você não me avisou que havia perigo? Porque você não me avisou? As damas sabem contra o que devem se proteger, porque há romances que contam sobre esses truques.”[2]
Eu reconheço a citação de Tess of the D´Urbervilles. Eu estou pasma com a ironia de que eu passei três horas escrevendo sobre a novela de Thomas Hardy no meu exame final. Talvez não haja ironia, talvez seja deliberado. Eu inspeciono os livros mais de perto, os três volumes. Eu abro a primeira contracapa. Escrito em uma letra antiga está:
‘London: Jack R. Osgood, McIlvaine and Co., 1891.’
Puta merda! São as primeiras edições! Eles devem ter custado uma fortuna e eu sei, quase que mediatamente, quem os mandou. Kate esta recostada nos meus ombros olhando os livros. Ela pega o cartão.
— Primeira edição. — eu sussurro.
— Não! — os olhos de Kate estão abertos com descrença. — Grey?
Eu confirmo.
— Não consigo pensar em mais ninguém.
— O que significa o que está escrito no cartão?
— Eu não faço nenhuma ideia. Eu acho que é um aviso. Honestamente ele vive me alertando. Eu não faço ideia do por que. Não é como se eu estivesse tentando derrubar a porta dele. — eu franzo a testa.
— Eu sei que você não quer falar sobre ele, Ana, mas ele está seriamente interessado em você. Com ou sem avisos.
Eu não deixei de pensar em Christian Grey na última semana. Está bem ... Então seus olhos cinzentos continuam assombrando meus sonhos e eu sei que vai levar uma eternidade para expurgar a sensação de estar em seus braços e esquecer seu cheiro. Por que ele me mandou isso?
Ele me disse que eu não era para ele.
— Eu achei um Tess primeira edição para vender em Nova York por $14.000,00. Mas o seu está em melhores condições. Deve ter sido mais caro. — Kate estava consultando seu bom amigo Google.
— Esta citação, Tess fala para sua mãe depois que Alex D´Urberville a seduz.
— Eu sei.
Kate fica inspirada. — O que ele está tentando te dizer?
— Eu não sei e eu não me importo. Eu não posso aceitar isso dele. Eu vou mandá-los de volta com alguma citação desconcertante de alguma parte obscura do livro.
— A parte em que Angel Clare diz Foda-se? — Kate pergunta com a cara mais sonsa do mundo.
— Sim, esta parte. — eu rio. Eu amo Kate, ela é leal e sempre me apoia. Eu embrulho os livros e os deixo na mesa de jantar. Kate me dá uma taça de champagne.
— Ao final dos exames e a uma nova vida em Seattle. — Ela sorri.
— Ao fim dos exames, nossa nova vida em Seattle e aos excelentes resultados que teremos! — Nós brindamos e bebemos.
O bar estava barulhento e agitado, cheio de futuros formandos prontos para ficarem imprestáveis. José se juntou a nós. Ele só se formará daqui a um ano, mas ele está no clima de comemorar e nos ajuda a entrar no espírito de nossa nova liberdade pagando margaritas para todos nós. Enquanto eu bebo a minha quinta, percebo que talvez não seja uma boa ideia misturá-la com champagne.
— E agora Ana? — José grita para que eu posso ouvi-lo com todo o barulho.
— Eu e Kate estamos nos mudando para Seattle. Os pais dela compraram um apartamento em um condomínio fechado para ela.
— Dios Mio! Como a outra parte vive! Mas você vai vir para minha exposição?
— Claro que sim, José, eu não perderia por nada do mundo! — Eu sorrio e ele coloca seu braço em meus ombros e me puxa para perto.
— Vai significar muito para mim Ana se você estiver lá. — Ele sussurra em minha orelha. — Mais uma margarita?
— José Luis Rodrigues, você está tentando me deixar bêbada? Porque eu acho que está funcionando. — eu rio — Eu acho melhor beber uma cerveja. Eu vou pegar uma jarra para nós.
— Mais bebida Ana! — Kate grita.
Kate tem a constituição de um touro. Ela está com seu braço jogado em Levi, um dos quatro estudantes ingleses que estudaram conosco e seu fotógrafo costumeiro do jornal dos estudantes. Ele desistiu de tirar fotos da bebedeira ao seu redor. Ele tem olhos apenas para Kate. Ela está com uma camiseta de seda, tipo babydoll, jeans justos e saltos altos, cabelos para cima, com alguns fios descendo por seu rosto, como gavinhas, deslumbrante como sempre. Eu, por outro lado, sou mais uma garota de usar all-star, jeans e camiseta, mas eu estou usando a minha melhor calça jeans. Eu saio do abraço de José e vou para a mesa. Opa. Sinto minha cabeça rodar. Eu tenho de segurar nas costas da cadeira. Coquetéis a base de tequila não são uma boa ideia.
Eu vou para o bar e decido que é melhor ir ao banheiro já que ainda estou de pé. “Bem pensado, Ana”. Eu cambaleio para fora da multidão. Claro, há uma fila, mas ao menos está quieto e fresco no corredor. Eu pego meu celular para aliviar a espera tediosa da fila. Humm para quem eu liguei por último? Será eu foi para José? Antes disso há um número que eu não reconheço. Ah sim. Grey, eu acho que este é o número dele. Eu rio. Eu não faço ideia de que horas são, talvez eu o acorde. Talvez ele possa me dizer por que me mandou os livros e aquela mensagem misteriosa. Se ele deseja que eu me mantenha afastada, ele deveria me deixar em paz. Eu contenho um soluço bêbado e aperto o botão para chamar o número dele de novo.
Ele atende no segundo toque.
— Anastacia? — ele parece surpreso de receber minha ligação. Bem, francamente, eu estou surpresa por ter ligado para ele também. Então meu cérebro atrapalhado registra...Como ele sabe que sou eu?
— Por que você me mandou aqueles livros? – eu cuspo as palavras para ele.
—Anastacia, você está bem? Você soa estranha. — sua voz está cheia de preocupação.
— Não sou a estranha, é você. — eu o acuso. Pronto. Eu disse a ele com uma coragem nascida do álcool.
— Anastacia, você andou bebendo?
— O que isso te interessa?
— Estou curioso. Onde você está?
— Em um bar.
— Que bar?
— Um bar em Portland.
— Como você vai para casa?
— Eu dou um jeito. — Esta conversa não está sendo como eu pensei.
— Em que bar você está?
— Por que você mandou os livros, Christian?
— Anastacia, onde você está? Diga-me agora! — seu tom é ditatorial, como sempre um maníaco por controle. Eu o imagino como um antigo diretor de cinema, usando calças de equitação, segurando um antigo megafone em uma mão e um chicote na outra. A imagem me faz rir alto.
— Você é tão dominante. — eu rio.
— Ana, me ajude, onde, cacete, você está?
Christian Grey está amaldiçoando comigo. Eu rio de novo.
— Eu estou em Portland...Bem longe de Seattle.
— Onde em Portland?
— Boa noite Christian.
— Ana!
Eu desligo. Ha! E ele não me respondeu sobre os livros. Eu franzo a testa. Não cumpri minha missão. Eu realmente estou bêbada. – Minha cabeça está girando terrivelmente enquanto eu avanço na fila. Bem, o objetivo de hoje era ficar bêbada. Eu consegui. Então assim que é – provavelmente não é uma experiência que irei repetir. A fila anda e agora é a minha vez. Eu olho sem ver o pôster atrás da porta do banheiro que enaltece as virtudes do sexo seguro. Puta merda, eu acabei de ligar para Christian Grey? Merda. Meu telefone toca e eu pulo. Eu grito com a surpresa.
— Oi. — eu murmuro timidamente. Eu não reconheci quem era.
— Eu estou indo te buscar. — ele diz e desliga. Apenas Christian Grey poderia soar calmo e ameaçador ao mesmo tempo.
Puta merda! Eu puxo meu jeans para cima. Meu coração dispara. Vindo me buscar? Ah não! Eu não vou vomitar….não…estou bem. Ele está apenas mexendo com a minha cabeça. Eu não disse a ele onde eu estava. Ele não pode me achar aqui. Além disso, ele está a horas de Seattle e eu terei ido embora há muito tempo quando ele chegar. Eu lavo minhas mãos e olho meu rosto no espelho.
Eu estou levemente corada e ligeiramente sem foco. Hmmm....tequila.
Eu espero no bar, pelo que parece uma eternidade pela jarra de cerveja e eventualmente retorno para a mesa.
— Você demorou. — Kate me repreende. — Onde você estava?
— Eu estava na fila do banheiro.
José e Levi estavam tendo um debate acalorado sobre o time local de baseball. José parou o que estava falando para colocar cerveja para todos nós e tomei um longo gole.
— Kate, acho melhor eu parar um pouco e ir lá fora tomar um pouco de ar.
— Ana, você é muito fraca para bebida.
— Eu volto em cinco minutos.
Eu abri caminho pela multidão novamente. Eu estou começando a sentir náuseas, minha cabeça gira desconfortavelmente e eu mal consigo ficar em pé. Mais instável do que de costume. Respirando o ar frio da noite no estacionamento me faz perceber o quão bêbada eu estou.
Minha visão foi afetada e eu estou vendo tudo dobrado, como nas reprises de Tom e Jerry. Eu acho que vou passar mal. Porque eu me deixei ficar nesse estado?
— Ana! — José se junta a mim. — Você está bem?
— Eu acho que eu bebi demais. — sorrio fracamente para ele.
— Eu também. — ele murmura e seus olhos escuros me olham intensamente. — Você precisa de uma mão? — ele pergunta e se aproxima, colocando seus braços ao meu redor.
— José, eu estou bem, pode me soltar. — eu tento me afastar dele, debilmente.
— Ana, por favor... — ele sussurra, e agora eu estou entre seus braços, sendo puxada mais para perto..
— José, o que você está fazendo?
— Ana, você sabe que eu gosto de você, por favor...
Ele coloca uma de suas mãos em minhas costas, me prendendo contra ele e a outra está no meu rosto, indo para atrás da minha cabeça. Puta merda...ele vai me beijar.
— Não, José, pare! — Eu o empurro, mas ele é todo músculos e força e eu não consigo me livrar dele. Sua mão escorreu para o meu cabelo e ele segura minha cabeça em posição.
— Por favor Ana, carinho — ele sussurra contra os meus lábios. Seu hálito é suave e doce, margaritas e cerveja. Ele gentilmente espalha beijos pelo meu queixo até minha boca. Eu estou apavorada, bêbada e completamente fora de controle. O sentimento é sufocante.
— José, não! — eu suplico. — Eu não quero isso! Você é meu amigo e eu acho que vou vomitar.
— Eu acredito que a dama disse não.
Uma voz sombria soa suavemente. Puta merda! Christian Grey está aqui. Como? José me larga.
— Grey. — Ele responde laconicamente.
Eu olho ansiosa para Christian. Ele olha de forma ameaçadora para José. Ele está furioso. Droga. Meu estômago se manifesta e eu me dobro, meu corpo não consegue mais tolerar o álcool e eu vômito espetacularmente no chão.
— Ugh! Dios mio Ana! — José pula para trás com nojo. Grey pega meu cabelo e o levanta para evitar o vômito e gentilmente me leva em direção ao canteiro de flores na borda do estacionamento. Eu noto, com uma grande gratidão, que está relativamente escuro.
— Se você for vomitar novamente, faça isso aqui. Eu seguro você. — Ele coloca um de seus braços em meus ombros, enquanto o outro segura meu cabelo para ficar longe do meu rosto. Eu tento desajeitadamente empurrá-lo, mas eu vomito novamente... e novamente...ai! merda!
Por quanto tempo isso irá durar? Mesmo quando meu estômago está vazio e nada mais acontece, arrepios horríveis descem pelo meu corpo. Eu juro silenciosamente que eu nunca mais vou beber de novo. Isto é muito apavorante para por em palavras. Finalmente, para.
Minhas mãos estão apoiadas nos tijolos do canteiro, mal me sustentando. Vomitar profusamente é exaustivo. Grey tira uma de suas mãos de mim e me passa um lenço. Apenas ele poderia ter um lenço de linha com monograma, recentemente lavado. CTG. Eu não sabia que ainda se podia comprar desses lenços. Vagamente eu me pergunto o que significa o T enquanto eu limpo minha boca. Eu não consigo olhar para ele. Estou afogada na minha vergonha, com nojo de mim mesma. Eu gostaria de ser engolida pelas azaléias que estão no canteiro e estar em qualquer lugar, menos aqui. José ainda está pairando na porta do bar, olhando para nós. Eu gemo e ponho as mãos na cabeça. Este tem de ser o pior momento da minha existência. Minha cabeça ainda está girando enquanto eu tento lembrar um momento pior – e eu só consigo me lembrar da rejeição de Christian – e este tem muito mais sombras escuras em termos de humilhação. Eu arrisco olhar para ele. Ele está olhando para mim, sua face composta, não me deixando perceber nada. Eu me viro para olhar José que parece estar bem envergonhado e, como eu, intimidado por Grey. Eu o encaro. Eu tenho poucas opções de palavras para o meu suposto amigo, nenhuma delas que eu possa repetir na frente de Christian Grey, presidente executivo. “Ana, quem você está enganando? Eu simplesmente te vi vomitando pelo chão e nas flores. Não há nada mais desagradável em termos de educação feminina.”
Eu vejo você lá dentro. — José murmura, mas nós dois o ignoramos e ele entra no prédio. Eu estou por minha conta com Grey. Dupla droga. O que eu devo dizer a ele?
Desculpe-se pelo telefonema.
Eu sinto muito. — eu murmuro, olhando para o lenço, que eu amasso furiosamente com meus dedos. Tão macio.
Pelo que você está se desculpando Anastacia?
Oh Droga! Ele quer seu maldito pedaço de carne.
— Pelo telefonema, estando bêbada. Ah! A lista é interminável. — eu murmuro, sentindo meu rosto ficar vermelho. “Por favor, eu posso morrer agora?”
— Todos nós já passamos por isso, talvez não de forma tão dramática como você. — ele disse secamente. — Isto é sobre conhecer seus limites, Anastacia. Eu quero dizer, eu sou a favor de romper os limites, mas talvez isso seja muito brando. Você tem por hábito este tipo de comportamento?
Minha cabeça está zunindo como excesso de álcool e irritação. O que diabos isto tem a ver com ele? Eu não o convidei para vir até aqui. Ele soa como um homem de meia idade dando bronca em uma criança. Parte de mim deseja dizer que se eu quiser ficarei bêbada todas as noites e esta é a minha decisão e ela nada tem a ver com ele – mas eu não sou corajosa o suficiente. Não agora que eu vomitei na frente dela. Por que ele está parado ali?
— Não. — eu digo de forma contrita. — eu nunca fiquei bêbada antes e agora eu desejo nunca mais ficar.
Eu não consigo entender por que ele está aqui. Eu começo a me sentir fraca. Ele nota minha tontura e me segura antes que eu caia e me levanta em seus braços, me segurando perto de seu peito como se eu fosse uma criança.
— Vamos lá, eu te levo para casa. — ele murmura.
— Eu preciso avisar Kate. — “Minha nossa Senhora! Estou nos braços dele de novo!”
— Meu irmão pode dizer a ela.
— O que?
— Meu irmão Elliot está falando com a senhorita Kavanagh.
— Anh? Eu não entendo.
— Ele estava comigo quando você telefonou.
— Em Seattle?
— Não, eu estou no Heathman.
Ainda? Por que?
— Como você me achou?
— Eu rastreei seu telefone Anastacia.
Claro que sim! Mas como isso é possível? Seria legal? Perseguidor, meu subconsciente sussurra através da nuvem de tequila que ainda flutua no meu cérebro, mas de alguma maneira, como é ele, eu não me importo.
— Você tem algum casaco ou bolsa?
— Sim, eu vim com os dois. Christian, por favor, eu preciso falar com Kate. Ela vai ficar preocupada. — Ele pressionou os lábios em uma linha fina, e acenou concordando.
— Se você precisa.
Ele me coloca no chão e pegando minha mão me leva para dentro do bar. Eu me sinto fraca, ainda bêbada, embaraçada, exausta, mortificada e em algum nível absolutamente emocionada. Ele está agarrando minha mão, tantas emoções confusas! Eu irei precisar de pelo menos uma semana para processar isso tudo.
É barulhento, cheio e a música tinha começado, então havia uma multidão na pista de dança. Kate não estava em nossa mesa e José desapareceu. Levi parecia perdido e largado por sua conta.
— Onde está Kate? — Eu gritei por cima do barulho. Minha cabeça havia começado a latejar no mesmo compasso da música.
— Dançando. — Ele gritou, e eu podia dizer que ele estava zangado. Ele olhava Christian com suspeita.
Eu luto com meu casaco preto e coloco minha bolsa pequena pela cabeça e ela fica de lado, nos meus quadris. Estou pronta para ir, assim que eu achar Kate.
— Ela está na pista de dança. — Eu toco no braço de Christian, fico na ponta dos pés e grito em seu ouvido, acariciando seu cabelo com meu nariz, sentindo seu cheiro limpo e fresco. Ai Meu Deus! Todos esses proibidos, não familiares sentimentos que eu tentei esconder vieram à tona e correram por meu corpo drenado. Enrubesci e em algum lugar dentro, bem dentro de mim meus músculos estalaram deliciosamente.
Ele revirou seus olhos para mim e pegou minha mão, levando-me para o bar. Ele foi servido imediatamente. Nada de espera para o senhor do controle Grey. Será que tudo vem tão facilmente assim para ele? Eu não consigo ouvir o que ele pediu. Ele me entrega um copo grande de água com gelo.
— Beba. — Ele grita sua ordem para mim.
As luzes se movem, se torcem e piscam para mim no mesmo ritmo da música, conjurando um estranho jogo de luzes e sombras por todo o bar e clientela. Elas se alternam em verde, azul, branco e um endemoniado vermelho. Ele me olha intensamente. Eu tento respirar.
— Todo ele. — Grita.
Ele é tão arrogante. Ele passa uma mão pelos cabelos despenteados. Ele parece frustrado, zangado. Qual é o problema? Tirando uma garota boba e bêbada ligando para ele no meio da noite, que o faz pensar que ela precisa ser resgatada. E acontece que ela realmente acaba precisando ser resgatada de seu amigo amoroso. Então vê-la vomitar violentamente aos seus pés. Oh Ana....será que você descer tão baixo? Meu subconsciente está figurativamente com as mãos para cima, como um egípcio e olhando para mim através de óculos com formato de meia lua. Eu balanço levemente, e ele coloca sua mão nos meus ombros, me firmando. Eu faço como me foi mandado e bebo o copo inteiro de água. Eu me sinto enjoada. Tirando o copo de mim, ele o coloca no bar. Eu noto através da névoa da bebida que ele está usando uma blusa branca solta, jeans confortável, all-star preto e uma jaqueta. Sua blusa está desabotoada em cima e eu consigo ver o começo dos pelos de seu peito. No meu estado grogue, ele parece delicioso.
Ele pega minha mão mais uma vez. Puta merda! Ele está me levando para a pista de dança. Merda. Eu não danço. Ele pode sentir minha relutância e sobre as luzes coloridas ele parece divertido, sorrindo sardonicamente. Ele aperta e me puxa pela mão e eu estou em seus braços novamente, então ele começa a se mexer, me levando com ele. Cara, ele sabe dançar. E eu não consigo acreditar que eu o estou seguindo passo por passo. Talvez seja porque eu estou bêbada. Ele me segura apertado contra ele, seu corpo colado ao meu... se ele não estivesse me segurando tão apertado, eu estou certa de que eu já teria caído. No fundo da minha mente, o mantra de minha mãe ressoa: nunca confie em um homem que sabe dançar.
Ele nos leva através da pista lotada até o outro lado, perto de Kate e Elliot, o irmão dele. A música é um martelar constante, alta e ardilosa, dentro e fora da minha cabeça. Eu suspiro. Kate está se movendo. Ela está dançando loucamente e ela apenas faz isso quando ela realmente gosta de alguém. Realmente gosta de alguém. Isso significa que amanhã haverá três de nós para o café da manhã. Kate!
Christian se reclina e grita nos ouvidos de Elliot. Eu não consigo ouvir o que ele diz. Elliot é alto, com ombros largos, cabelos loiros encaracolados, um sorriso aberto e olhos brincalhões. Eu não consigo saber de que cor eles são por causa das luzes. Elliot concorda e puxa Kate para seus braços, onde ela vai muito contente. Kate! Até mesmo no meu estado inebriado eu fico chocada. Ela acabou de conhecê-lo. Ela concorda com o que quer que Elliot tenha dito, olha para mim e acena. Christian nos impulsiona para fora da pista de dança rapidamente.
Mas eu não consegui falar com ela. Será que está bem? Eu posso ver que as coisas estão indo bem para os dois. Eu preciso ler sobre como fazer sexo seguro. No fundo da minha mente, eu espero que ela tenha lido um dos posters do banheiro. Meus pensamentos colidem pelo meu cérebro, brigando com meu estado ébrio e confuso. Está tão quente aqui, tão barulhento, tão colorido – muito brilhante. Minha cabeça começa a rodas, ai, não...e eu consigo sentir o chão subindo para encontrar o meu rosto, quando eu caio.
A última coisa de que me lembro antes de desmaiar nos braços de Christian Grey é o sonoro epíteto:
— Porra!
[1] O Gato de Cheshire é um gato fictício, personagem do livro Alice no país das maravilhas de Lewis Carrol. Ele se caracteriza por seu sorriso pronunciado e sua capacidade de aparecer e desaparecer.
[2] HARDY, Thomas. Tess of the D’Urbervilles. 1891. Maiores informações: https://rosebud-rose-bud.blogspot.com.br/2006/09/tess-of-durbervilles.html