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Capítulo 01
Capítulo 01

          Eu olho com frustração para mim mesma no espelho. Maldito cabelo, ele simplesmente não se comporta, e maldita Katherine Kavanagh por estar doente e me sujeitar a esta provação. Eu devia estar estudando para meus exames finais, que será na semana que vem, mas estou aqui tentando escovar meus cabelos até que eles se submetam. Eu não devo dormir com ele molhado. Eu não devo dormir com ele molhado.  Recitando esta ladainha várias vezes, eu tento, mais uma vez, deixa-los sob controle com a escova. Eu reviro meus olhos em exasperação e olho para a pálida menina de cabelos castanhos com olhos azuis muito grandes para seu rosto, olhando fixamente de volta para mim, e desisto. Minha única opção é conter meu cabelo rebelde em um rabo-de-cavalo e esperar que eu pareça meio apresentável.

          Kate é minha companheira de quarto, e ela escolheu justamente hoje para sucumbir à gripe.

          Então, ela não podia comparecer a entrevista que ela agendou, com algum magnata mega industrial que eu nunca ouvi falar, para o jornal estudantil. Então eu tive que me voluntariar. Eu tenho exames finais para estudar, uma redação para terminar, e eu devia estar trabalhando esta tarde, mas não, hoje eu tenho que dirigir duzentos e sessenta e cinco quilômetros para o centro de Seattle a fim de encontrar o enigmático CEO[1] da Grey Enterprises Holdings Inc. Como um empresário excepcional e benfeitor importante de nossa Universidade, seu tempo é extraordinariamente precioso, muito mais precioso que o meu, mas, ele concedeu a Kate uma entrevista. Um verdadeiro golpe de sorte, ela me disse. Maldita atividades extracurriculares dela.

          Kate está encolhida no sofá na sala de estar.

          — Ana, eu sinto muito. Demorei nove meses para conseguir esta entrevista. Levará outros seis para reagendar, e nós duas vamos estar formadas até lá. Como editora, eu não posso estragar isto. Por favor, — Kate me implora em sua voz rouca, de garganta inflamada. Como ela faz isto? Mesmo doente ela parecia atrevida e magnífica, com cabelos ruivos dourados e olhos verdes brilhantes, embora agora avermelhados e com coriza nasal. Eu ignoro minha pontada de simpatia indesejada.

          — Claro que eu vou Kate. Você deve voltar para a cama. Você gostaria de um pouco de Nyquil ou Tylenol? [2]

          — Nyquil, por favor. Aqui estão às perguntas e meu mini-gravador. Apenas aperte gravar aqui. Faça anotações e eu transcreverei tudo.

          — Eu não sei nada sobre ele, — eu murmuro, tentando e falhando em suprimir meu pânico crescente.

          — As perguntas virão ao seu encontro. Vá. É uma longa viagem. Eu não quero que você se atrase.

          — Ok, eu estou indo. Volte para a cama. Eu fiz uma sopa para você aquecer mais tarde. — Eu olho para ela ternamente.  Só por você, Kate, eu farei isto.

          — Eu sei. Boa sorte. E obrigado Ana, como sempre, você é minha salvadora.

          Juntando minha mochila, eu sorrio ironicamente para ela, então me dirijo porta afora para o carro. Eu não posso acreditar que eu deixei Kate me convencer disto. Entretanto, Kate pode convencer qualquer um de qualquer coisa.

          Ela vai ser uma jornalista excepcional. Ela é articulada, forte, persuasiva, argumentativa, bonita e ela é minha mais querida, querida amiga.

          As estradas estão limpas quando eu parto de Vancouver, com acesso a Washington em direção a Portland e a I-5. É cedo, e eu não tenho que estar em Seattle até às duas da tarde. Felizmente, Kate me emprestou seu desportivo Mercedes CLK. Eu não tenho certeza se Wanda, meu velho besouro VW, faria a jornada a tempo. Oh, o Merc. é uma diversão de dirigir, e as milhas escapam quando eu piso no pedal até o fundo.

          Meu destino é a sede global da empresa do Sr. Grey. É um edifício comercial enorme de vinte andares, todo em vidro curvo e aço, uma estrutura arquitetônica fantástica, com Grey House[3] escrito discretamente em aço acima das portas de vidro dianteiras. É uma e quarenta e cinco quando eu chego, estou tão aliviada de não estar atrasada quando eu entro na enorme, e francamente intimidante portaria de vidro e aço, em arenito branco.

          Atrás do balcão de arenito sólido, uma muito atraente, adestrada, jovem loira sorri agradavelmente para mim. Ela está vestindo um terninho carvão e camisa branca, mais elegante que eu já vi. Ela parece imaculada.

          — Eu estou aqui para ver o Sr. Grey.  Anastásia Steele por Katherine Kavanagh.  

          — Com licença um momento, Senhorita Steele. — Ela arqueia sua sobrancelha ligeiramente quando eu permaneço conscientemente diante dela. Eu começo a desejar que eu ter pegado emprestado um dos blazers formais de Kate em lugar de vestir minha jaqueta azul marinho. Eu fiz um esforço e vesti minha única saia, minhas comportadas botas marrons até os joelhos e um suéter azul. Para mim, isto é inteligente. Eu enfio um dos fugitivos tentáculos de meus cabelos para trás de minha orelha enquanto eu finjo que ela não me intimida.

          — Senhorita Kavanagh é esperada. Por favor, registre-se aqui, Senhorita Steele. Você irá até o último elevador à direita, pressione para o vigésimo andar. — Ela sorri amavelmente para mim, divertida, sem dúvida, quando eu me registro.

          Ela me dá um crachá de segurança que tem VISITANTE muito firmemente estampado na frente. Eu não posso evitar meu sorriso. Certamente é óbvio que eu estou só de visita. Eu não encaixo aqui mesmo.

          Nada muda, eu interiormente suspiro. Agradecendo a ela, eu caminho para o banco de elevadores passando os dois homens da segurança que estão muito mais bem vestidos do que eu estou, em seus ternos pretos bem cortados.

          O elevador me leva rapidamente com máxima velocidade para o vigésimo andar. As portas deslizam abrindo, e eu estou em outra grande entrada, mais uma vez toda em vidro, aço e arenito branco. Eu sou confrontada por outra mesa de arenito e outra jovem loira vestida impecavelmente em preto e branco, que levanta para me saudar.

          — Senhorita Steele, você poderia esperar aqui, por favor? — Ela aponta para uma área acomodada por cadeiras de couro branco.

          Atrás das cadeiras de couro está uma espaçosa sala de reunião envidraçada, cercada por uma mesa de madeira escura, igualmente espaçosa e pelo menos vinte cadeiras harmonizadas ao redor dela. Além disto, tinha uma janela do chão ao teto com uma visão do horizonte de Seattle, que mostrava a cidade em direção ao Sound.[4] É uma vista deslumbrante, e eu fico momentaneamente paralisada pela visão. Uau.

          Eu me sento, pesco as perguntas de minha mochila, e dou uma repassada nelas, amaldiçoando interiormente Kate por não me fornecer uma breve biografia. Eu não conheço nada sobre este homem que estou para entrevistar. Ele pode ter noventa anos ou pode ter trinta. A incerteza está me irritando, e meus nervos ressurgem, fazendo com que eu fique incomodada. Eu nunca fico confortável com uma entrevista em pessoa, preferindo o anonimato de uma discussão de grupo onde eu posso me sentar imperceptivelmente na parte de trás da sala. Para ser honesta, eu prefiro minha própria companhia, lendo um romance clássico britânico, enrolada em uma cadeira na biblioteca do campus. Não sentada se contorcendo nervosamente em um colossal edifício de vidro e pedra.

          Eu reviro meus olhos para mim mesma. Mantenha o controle, Steele.  A julgar pelo edifício, que é muito clínico e moderno, eu imagino que Grey está em seus quarenta: em forma, bronzeado, e de cabelos loiros para combinar com o resto do pessoal.

          Outra elegante, impecavelmente vestida loira sai de uma grande porta à direita. O que é isso tudo com as loiras imaculadas? É como Stepford[5] aqui. Respirando fundo, eu me levanto. — Senhorita Steele? — A mais recente loira pergunta.

          — Sim, — eu coaxo, e clareio minha garganta. — Sim. — Agora, isto soou mais confiante.

          — O Sr. Grey irá recebê-la em um momento. Eu posso pegar seu casaco?

          — Oh, por favor. — Eu luto para tirar a jaqueta.

          — Já foi oferecido a você alguma bebida?

          — Hum, não. — Oh Deus, a Loira Número Um está em problemas?

          A Loira Número Dois franziu o cenho e olhou a jovem na escrivaninha.

          — Você gostaria de um chá, café, água? — Ela pergunta, voltando sua atenção para mim.

          — Um copo de água. Obrigada, — eu murmuro.

          — Olivia, por favor, vá buscar para Senhorita Steele um copo de água. — A voz dela é grave. Olivia foge imediatamente e se apressa para uma porta no outro lado do saguão.

          — Minhas desculpas, Senhorita Steele, Olivia é nossa nova estagiária. Por favor, sente-se. O Sr. Grey levará mais cinco minutos.

          Olivia retorna com um copo de água gelada.

          — Aqui está, Senhorita Steele.

          — Obrigada.

          A Loira Número Dois marcha para a grande escrivaninha, seus saltos clicando e ecoando no chão de arenito. Ela se senta, e ambas continuam seu trabalho.

          Talvez o Sr. Grey insista que todos os seus empregados sejam loiros. Eu me pergunto ociosamente se isto é legal, quando a porta do escritório abre e um alto, elegantemente vestido, atraente homem Afro-Americano com curtos dreads sai. Eu definitivamente vesti as roupas erradas.

          Ele se vira e diz pela porta. — Golfe, esta semana, Grey.

          Eu não ouço a resposta. Ele vira-se, me vê, e sorri, seus olhos escuros enrugando nos cantos. Olivia salta e chama o elevador. Ela parece se destacar em pular de sua cadeira. Ela está mais nervosa que eu!

          — Boa tarde, senhoras, — ele diz enquanto parte pela porta deslizante.

          — O Sr. Grey verá você agora, Senhorita Steele.  Siga-me, — A Loira Numero Dois diz.

          Eu estou bastante tremula tentando suprimir meus nervos. Juntando minha mochila, eu abandono meu copo de água e faço meu caminho para a porta parcialmente aberta.

          — Você não precisa bater, apenas entre. — Ela amavelmente sorri.

          Eu empurro a porta aberta e cambaleio, tropeçando em meus próprios pés, e caio de cabeça dentro do escritório.

          Merda dupla: eu e meus dois pés esquerdos! Eu estou em minhas mãos e de joelhos na porta de entrada do escritório do Sr. Grey, e mãos gentis estão ao meu redor me ajudando a levantar. Eu estou tão envergonhada, maldita falta de jeito. Eu tenho que lançar meu olhar para cima. Puta que pariu, ele é tão jovem.

          — Senhorita Kavanagh. — Ele estende uma mão com longos dedos para mim, uma vez que eu fico de pé. — Eu sou Christian Grey. Você está bem? Você gostaria de se sentar?

          Tão jovem, e atraente, muito atraente. Ele é alto, vestido em um fino terno cinza, camisa branca e gravata preta, com incontroláveis cabelos cor de cobre e intensos, luminosos olhos cinza claro que me observam astutamente. Leva um momento para eu encontrar minha voz.     

          — Hum hum. Perfeitamente — eu murmuro. Se este cara está acima dos trinta então eu sou o tio Macaco.[6] Em uma confusão, eu coloco minha mão na dele e nós levamos um choque. Quando nossos dedos se tocam, eu sinto um estimulante e estranho calafrio, correndo através de mim. Eu retiro minha mão apressadamente, envergonhada. Deve ser estática. Eu pisco rapidamente, minhas pálpebras harmonizando minha frequência cardíaca.

          — A Senhorita Kavanagh está indisposta, então ela me enviou. Eu espero que você não se importe, Sr. Grey.

          — E você é? — Sua voz é morna, possivelmente divertida, mas é difícil dizer por sua expressão impassível. Ele parece ligeiramente interessado, mas acima de tudo, educado.  

          — Anastásia Steele. Eu estudo Literatura inglesa com Kate, hum… Katherine… hum… Senhorita Kavanagh do Estado de Washington.

          — Entendo, — ele simplesmente diz. Eu penso ver um fantasma de um sorriso em sua expressão, mas eu não estou certa. — Você gostaria de se sentar? — Ele acena em direção a um sofá de couro branco em forma de L.

          Seu escritório é muito grande para um homem só. Na frente das janelas que vão do chão ao teto, há uma enorme escrivaninha moderna de madeira escura, que seis pessoas poderiam comer confortavelmente ao redor. Combinando a mesa de café com o sofá. Todo o resto é branco, teto, pisos e paredes, exceto, a parede perto da porta, onde estava um mosaico pendurado de pequenas pinturas, trinta e seis delas dispostas em um quadrado. Elas são primorosas, uma série de objetos mundanos esquecidos, pintados com tal detalhe preciso que eles parecem com fotografias. Exibidos juntos, eles são de tirar o fôlego.

          — Um artista local. Trouton, — Grey diz quando ele pega meu olhar.

          — Elas são adoráveis. Elevando o ordinário para o extraordinário, — eu murmuro distraída, tanto por ele como pelas pinturas. Ele vira sua cabeça para um lado e me fixa atentamente.

          — Eu concordo plenamente, Senhorita Steele, — ele responde, sua voz suave e por alguma razão inexplicável eu me encontro corando.

          Além das pinturas, o resto do escritório era frio, limpo e clínico. Eu me pergunto se isto reflete a personalidade do Adônis, que afunda graciosamente em uma das cadeiras de couro branco á minha frente. Eu agito minha cabeça, transtornada com a direção de meus pensamentos, e recupero as perguntas de Kate da minha mochila. Em seguida, eu instalo o mini gravador e sou toda dedos e polegares, o deixando cair uma segunda vez na mesa de café à minha frente. O Sr. Grey não diz nada, esperando pacientemente “eu espero” enquanto eu me torno cada vez mais envergonhada e frustrada. Quando eu tomo coragem para olhá-lo, ele está me observando, uma mão relaxada em seu colo e a outra embaixo de seu queixo e arrastando o seu longo dedo indicador através de seus lábios. Eu acho que ele está tentando conter um sorriso.

          — Desculpe-me, — eu gaguejo. — Eu não estou acostumada a isto.

          — Leve o tempo que você precisar, Senhorita Steele, — ele diz.

          — Você se importa se eu gravar suas respostas?

          — Depois que você teve tantas dificuldades para instalar o gravador, agora que você me pergunta?

          Eu coro. Ele está tirando sarro de mim? Eu espero. Eu pisco para ele, sem saber o que dizer, e acho que ele fica com pena de mim porque ele cede. — Não, eu não me importo.

          — Será que Kate, eu quero dizer, a Senhorita Kavanagh, explicou para o que é a entrevista?

          — Sim. Para aparecer na edição de graduação do jornal estudantil quando eu outorgar o diploma na cerimônia de graduação deste ano.

          Oh!  Isto é novidade para mim, e eu estou temporariamente preocupada pelo pensamento de que alguém não muito mais velho do que eu, Ok, talvez uns seis anos mais ou menos, e ok, mega- bem sucedido, mas, ainda assim, vai me apresentar em minha licenciatura. Eu franzo a testa, arrastando minha teimosa atenção de volta à tarefa à mão.

          — Bem, — eu engulo nervosamente. — Eu tenho algumas perguntas, Sr. Grey. — Eu aliso um cacho perdido de cabelo atrás de minha orelha.

          — Eu achei que você teria, — ele diz, impassível. Ele está rindo de mim. Minhas bochechas esquentam com a percepção, e eu me sento reta e enquadro meus ombros em uma tentativa de parecer mais alta e mais intimidante. Apertando o botão iniciar do gravador, eu tento parecer profissional.

          — Você é muito jovem para ter acumulado tal império. Há que você deve seu sucesso? — Eu olho para ele. Seu sorriso é arrependido, mas ele parece vagamente desapontado.

          — Negócios é tudo sobre pessoas, Senhorita Steele e eu sou muito bom em julgar as pessoas. Eu sei como elas marcam, o que as faz florescer, o que não faz, o que as inspira, e como incentivá-las. Eu emprego um time excepcional, e eu os recompenso bem. — Ele pausa e me fixa com seu olhar cinza. — Minha convicção é de alcançar o sucesso em qualquer esquema, alguém tem que se fazer mestre deste esquema, conhecê-lo de dentro para fora, saber todos os detalhes. Eu trabalho duro, muito duro para fazer isto. Eu tomo decisões baseadas em lógica e fatos. Eu tenho um instinto natural que pode localizar e nutrir uma boa ideia sólida e boas pessoas. O resultado final é sempre estabelecido para as boas pessoas.

          — Talvez você seja apenas sortudo. — Isto não está na lista de Kate, mas ele é tão arrogante. Seus olhos chamejam momentaneamente em surpresa.

          — Eu não acredito em sorte ou azar, Senhorita Steele. Quanto mais duro eu trabalho mais sorte eu pareço ter. Realmente é tudo sobre ter as pessoas certas em seu time e dirigindo suas energias neste sentido. Eu acho que foi Harvey Firestone quem disse “o crescimento e desenvolvimento das pessoas é a maior vocação de liderança.

          — Você soa como um maníaco por controle. — As palavras saíram de minha boca antes que eu possa detê-las.

          — Oh, eu exerço controle em todas as coisas, Senhorita Steele, — ele diz sem rastro de humor em seu sorriso.           Eu olho para ele, e ele segura o meu olhar continuamente, impassível. Meu batimento cardíaco acelera, e meu rosto fica corado novamente.

          Por que ele tem tal efeito irritante sobre mim? Sua beleza opressiva talvez? O modo como seus olhos brilham para mim? O modo como ele acaricia com o dedo indicador seu lábio inferior? Eu gostaria que ele parasse de fazer isto.

          — Além disso, o imenso poder é adquirido assegurando-se em seus devaneios secretos, que você nasceu para controlar as coisas, — ele continua, sua voz suave.

          — Você sente que tem imenso poder? — Maníaco por controle.

          — Eu emprego mais de quarenta mil pessoas, Senhorita Steele. Isso me dá certo sentido de responsabilidade.... poder, se assim prefere. Se decidisse que já não me interesso mais pelos negócios de telecomunicações e vendesse tudo, vinte mil pessoas teriam grandes dificuldades em pagar suas hipotecas no final do mês então.

          Minha boca abriu. Eu estou espantada pela sua falta de humildade.

          — Você não tem um conselho ao qual responder? — Eu pergunto, repugnada.

          — Eu possuo a minha empresa. Eu não tenho que responder para um conselho. — Ele levanta uma sobrancelha para mim.

          Eu ruborizo. Claro, eu saberia disto se eu tivesse feito alguma pesquisa. Mas puta merda, ele é tão arrogante. Eu mudo de rumo.

          — E você tem algum interesse fora de seu trabalho?

          — Eu tenho interesses variados, Senhorita Steele. — A sombra de um sorriso toca seus lábios. — Muito variado. — E por alguma razão, eu estou confusa e inflamada por seu olhar firme. Seus olhos estão iluminados com algum pensamento mau.

          — Mas se você trabalha tão duro, o que você faz para relaxar?

          — Relaxar? — Ele sorri, revelando dentes brancos perfeitos.

          Eu paro de respirar. Ele realmente é lindo. Ninguém devia ser tão bonito.

          — Bem, para “relaxar” como você diz, eu velejo, eu vôo, eu desfruto de várias atividades físicas.

          Ele desloca-se em sua cadeira. — Eu sou um homem muito rico, Senhorita Steele e tenho passatempos caros e absorventes.

          Eu olho depressa as perguntas de Kate, querendo sair deste assunto.

          — Você investe em fabricação. Por que, especificamente? — Eu pergunto. Por que ele me faz tão desconfortável?

          — Eu gosto de construir coisas. Eu gosto de saber como as coisas funcionam: o que torna as coisas marcantes, como construir e destruir. E eu tenho um amor por navios. O que eu posso dizer?

          — Isso soa como seu coração falando, em lugar da lógica e fatos.

          Ele faz trejeitos com a boca, e olha de forma avaliadora para mim.

          — Possivelmente. Embora existem pessoas que diriam que eu não tenho coração.

          — Por que eles diriam isto?

          — Porque eles me conhecem bem. — Seu lábio enrola em um sorriso irônico.

          — Seus amigos dizem que você é fácil de conhecer? — E eu lamento a pergunta assim que eu falo. Não está na lista de Kate.

          — Eu sou uma pessoa muito privada, Senhorita Steele. Eu percorro um caminho longo para proteger minha privacidade. Eu não costumo dar entrevistas, — ele vagueia.

          — Por que você concordou em fazer esta aqui?

          — Porque eu sou um benfeitor da Universidade, e para todos os efeitos, eu não consegui tirar a Senhorita Kavanagh de minhas costas. Ela insistiu e insistiu com meu pessoal de Relações Públicas, e eu admiro esse tipo de tenacidade.

          Eu sei o quanto Kate pode ser tenaz. É por isso que eu estou sentada aqui me contorcendo desconfortavelmente, sob o seu olhar penetrante, quando eu tinha que estar estudando para meus exames.

          — Você também investe em tecnologias agrícolas. Por que você está interessado nesta área?

          — Nós não podemos comer dinheiro, Senhorita Steele, e existem muitas pessoas neste planeta que não tem o suficiente para comer.

          — Isso soa muito filantrópico. É algo que você sente apaixonadamente? Alimentar os pobres do mundo?

          Ele encolhe os ombros, muito reservado.

          — É um negócios astuto, — ele murmura, entretanto eu penso que ele não está sendo sincero. Isso não faz sentido, alimentar os pobres do mundo? Eu não posso ver os benefícios financeiros disto, só a virtude do ideal. Eu olho para a próxima pergunta, confusa por sua atitude.

          — Você tem uma filosofia? Nesse caso, qual é?

          — Eu não tenho uma filosofia como essa. Talvez um princípio do orientador Carnegie: “Um homem que adquire a habilidade de tomar posse completa de sua própria mente, pode tomar posse de qualquer outra coisa a que ele por justiça tem direito”. Eu sou muito peculiar, impulsivo. Eu gosto de controlar, a mim mesmo e aqueles ao meu redor.

          — Então você quer possuir coisas? — Você é um maníaco por controle.

          — Eu quero merecer possuí-las, mas sim, no resultado final, eu quero.

          — Você soa como o consumidor irrevogável.

          — Eu sou. — Ele sorri, mas o sorriso não toca seus olhos. Novamente isto está em conflito com alguém que quer alimentar o mundo, então eu não posso evitar pensar que nós estamos conversando sobre outra coisa, mas eu estou absolutamente confusa sobre o que é isto. Eu engulo em seco. A temperatura na sala está subindo ou talvez seja apenas eu. Eu só quero que esta entrevista termine. Seguramente Kate tem material suficiente agora? Eu olho para a próxima pergunta.

          — Você foi adotado. Até que ponto você acha que isto formou o que você é? — Oh, isto é pessoal. Eu fico olhando para ele, esperando que ele não se ofenda. Sua testa enruga.

          — Eu não tenho como saber.

          Meu interesse é despertado.

          — Que idade você tinha quando você foi adotado?

          — Esta é uma questão de registro público, Senhorita Steele. — Seu tom é duro. Eu ruborizo, novamente. Merda

          Sim claro que, se eu soubesse que eu faria esta entrevista, eu teria feito algumas pesquisas.

          Eu continuo depressa.

          — Você teve que sacrificar uma vida familiar por seu trabalho.  

          — Isto não é uma pergunta. — Ele é conciso.

          — Desculpe. — Eu me contorço, e ele me faz sentir como uma criança errante. Eu tento novamente. — Você teve que sacrificar uma vida em família por seu trabalho?

          — Eu tenho uma família. Eu tenho um irmão e uma irmã e pais amorosos. Eu não estou interessado em estender minha família além disto.

          — Você é gay, Sr. Grey?

          Ele inala bruscamente, e eu me encolho, mortificada. Merda.  Por que eu não empreguei algum tipo de filtro antes de eu ler em voz alta a pergunta? Como eu posso dizer a ele que eu estou só lendo as perguntas?

          Maldita Kate e sua curiosidade!

          — Não Anastásia, eu não sou. — Ele levanta suas sobrancelhas, um brilho frio em seus olhos. Ele não parece contente.

          — Eu peço desculpas. Isto está hum… escrito aqui. — É a primeira vez que ele disse meu nome. Meu batimento cardíaco acelera, e minhas bochechas estão aquecendo novamente. Nervosamente, eu coloco meu cabelo solto atrás da minha orelha.

          Ele dobra sua cabeça para um lado.

          — Estas não suas próprias perguntas?

          O sangue drena de minha cabeça. Oh não.

          — Éee… não. Kate, a Srta. Kavanagh, ela compilou as perguntas.  

          — Vocês são colegas no jornal estudantil? — Oh Merda.  Eu não tenho nada a ver com o jornal estudantil. É a atividade extracurricular dela, não minha. Meu rosto está em chamas.

          — Não. Ela é minha companheira de quarto.  

          Ele esfrega seu queixo em deliberação calma, seus olhos cinza me avaliando.

          — Você se voluntariou para fazer esta entrevista? — Ele pergunta, sua voz mortalmente calma.

          Espere, quem deveria estar entrevistando quem? Seus olhos queimam em cima de mim, e eu sou obrigada a responder com a verdade.

          — Eu fui sorteada. Ela não está bem. — Minha voz é fraca e apologética.

          — Isso explica muita coisa.

          Há uma batida na porta, e a loira Numero Dois entra.

          — Sr. Grey, perdoe-me por interromper, mas sua próxima reunião será em dois minutos.

          — Nós não terminamos aqui, Andrea. Por favor, cancele minha próxima reunião.

          Andrea fica boquiaberta, sem saber o que falar.  Ela parece perdida. Ele vira a cabeça lentamente para encará-la e levanta sua sobrancelha. Ela ruboriza escarlate. Oh bem. Ainda bem que eu não sou a única.  

          — Muito bem, Sr. Grey, — ela murmura, depois saí. Ele franze a testa, e volta sua atenção para mim.

          — Onde nós estávamos, Senhorita Steele?

          Oh, nós voltamos a “Srta. Steele” agora.

          — Por favor, não gostaria de atrapalhar suas obrigações.

          — Eu quero saber sobre você. Eu acho que isto é justo. — Seus olhos cinza estão acesos de curiosidade. Duas vezes merda. Onde ele está indo com isto? Ele coloca seus cotovelos nos braços da cadeira e coloca seus dedos na frente de sua boca. Sua boca tão… dispersiva. Eu engulo seco.

          — Não existe muito para saber, — eu digo, ruborizando novamente.

          — Quais são seus planos depois que você se formar?

          Eu encolho os ombros, seu interesse me desconcerta. Ir para Seattle com Kate, achar um lugar, achar um emprego.  Eu realmente não pensei além do meus exames finais.

          — Eu não fiz quaisquer planos, Sr. Grey. Eu só preciso passar nos meus exames finais.

          Para o qual eu devia estar estudando no momento, em lugar de me sentar em seu palaciano ostentoso, seu escritório estéril, sentindo-me desconfortável sob seu penetrante olhar.

          — Nós temos um excelente programa de estágio aqui, — ele diz calmamente. Eu levanto minhas sobrancelhas em surpresa. Ele está me oferecendo um emprego?

          — Oh. Eu vou pensar nisto, — eu murmuro, completamente confusa. — Ainda que eu não tenha certeza se me encaixaria aqui. — Oh não. Eu estou refletindo em voz alta novamente.

          — Por que você diz isto? — Ele dobra sua cabeça para um lado, intrigado, uma sugestão de um sorriso toca seus lábios.  

          — É óbvio, não é? — Eu não tenho coordenação, sou desleixada e não sou loira.

          — Não para mim, — ele murmura. Seu olhar é intenso, todo o humor tinha desaparecido, e estranhos músculos profundos em minha barriga apertam de repente. Eu desvio meus olhos do seu olhar minucioso e olho cegamente para baixo em meus dedos atados. O que está acontecendo?  Eu tenho que sair, agora. Eu me inclino para frente para recuperar o gravador.

          — Você gostaria que eu mostrasse ao redor? — Ele pergunta.

          — Eu estou certa que você está extremamente ocupado, Sr. Grey, e eu tenho uma longa viagem.

          — Você vai dirigindo de volta para a WSU[7] em Vancouver? — Ele soa surpreso, ansioso até. Ele olha para fora da janela. Está começado a chover. — Bem, é melhor você dirigir com cuidado. — Seu tom é severo, autoritário. Por que ele deveria se importar? — Você conseguiu tudo o que precisa? — Ele adiciona.

          — Sim senhor, — eu respondo, embalando o gravador em minha mochila. Seus olhos se estreitam, como estivesse pensando.

          — Obrigada pela entrevista, Sr. Grey.

          — O prazer foi todo meu, — ele diz, cortês como sempre.

          Quando eu me ergo, ele se levanta e estende sua mão.

          — Até a próxima, Senhorita Steele. — E isso soa como um desafio, ou uma ameaça, eu não estou certa de qual. Eu franzo a testa. Quando será que nós vamos encontrarmos novamente? Eu aperto sua mão mais uma vez, surpresa que esta estranha corrente entre nós ainda está lá. Deve ser meus nervos.

          — Sr. Grey. — Despeço-me dele com um movimento de cabeça.

          Ele se dirige a porta com graça e agilidade.  E abre a porta totalmente.

          — Só assegurando que você passe pela porta, Senhorita Steele. — Ele me dá um pequeno sorriso.

          Obviamente, ele está referindo-se a minha entrada nada elegante, mais cedo em seu escritório. Eu coro.

          — Muito amável de sua parte, Sr. Grey, — lhe digo bruscamente.

          Seu sorriso se alarga. Eu estou contente que você me ache divertida, eu penso furiosa interiormente, caminhando para o hall de entrada. Eu fico surpresa quando ele me segue. Tanto Andrea, quanto Olivia me olham, igualmente surpresas.

          — Você tem um casaco? — Grey pergunta.

          — Sim. — Olivia salta e recupera minha jaqueta, que Grey tira dela antes que ela possa dar para mim. Ele a segura e me sentindo ridiculamente tímida, eu coloco os ombros nela.

          Grey coloca suas mãos por um momento em meus ombros. Eu ofego com o contato. Se ele nota minha reação, ele não dá pistas. Seu longo dedo indicador pressiona o botão chamando o elevador, e nós permanecemos esperando, eu sem jeito, e ele sereno e frio.

          As portas se abrem, e eu me apresso desesperada para escapar. Eu realmente preciso sair daqui.  Quando eu viro para olhá-lo, ele está debruçando contra a entrada ao lado do elevador com uma mão na parede. Ele é realmente muito, muito bonito. Seus flamejantes olhos cinza olhando para mim. Desconcerta-me.

          — Anastásia, — ele diz como uma despedida.

          — Christian, — eu respondo. E misericordiosamente, as portas fecham.



[1] CEO – no original - Chief Executive Officer – Diretor Executivo

[2] Marcas de remédios para resfriado

[3] Casa Grey

[4] Puget Sound  É um complexo estuário  em Seattle com sistema de canais e bacias marinhas interligados, com uma grande conexão para o Estreito de Juan de Fuca e do Oceano Pacífico.

[5] The Stepford Wives (Mulheres Perfeitas ou As Possuídas, disponível no mercado literário brasileiro com ambos os títulos) é um romance de 1972 escrito por Ira Levin, baseados no qual foram lançados dois filmes homônimos: em 1975 e em 2004.

[6] Expressão idiomática que se refere a uma expressão de um filme americano, quando você fica muito surpreso

 

[7]  WSU – Washington State University – Universidade Estadual de Washington